"A esquizofrenia ( cuja forma atenuada se chama esquizoidia) designa um estado da mente no qual o sistema de valores que ela forjou substitui gravemente a percepção da realidade; ela está separada do real; perdeu o contato com o real; fecha-se no seu "sistema" que proclama como sendo o único válido e tenta impor a todo mundo.
A esquizofrenia não é senão a hipertrofia do "racionalismo'' que permitiu ao homem dominar as outras espécies. Numa percepção imediata, o mundo é desorganizado: é uma coleção de fatos singulares que atravancam a memória e cuja diversidade paralisa a ação. Para agir sobre o mundo, o homem precisa estruturá-lo, dar-lhe uma ordem, classificar os dados heterogêneos, inventar conceitos ou ideias gerais: numa palavra, criar um sistema de conhecimentos. Num primeiro momento esse sistema é eficaz porque se apóia ainda no real. Num segundo momento, o sistema substitui o real: é tão bonito que seu autor se apaixona por ele e se separa do real para viver apenas no seu sistema: é então que ele se torna um esquizofrênico.
Não é vergonhoso ser um pouco esquizofrênico: a maioria dos grandes criadores o foram. Os grandes construtores de sistemas filosóficos( Kant, Schopenhauer, Hegel...), os grandes artistas ( Michelangelo, Dostoievski, Beethoven...), os grandes sábios ( Copérnico, Einstein...).
Mas esses grandes homens não eram homens de ação e não tinham que assumir responsabilidades. Eles simplesmente construíram um novo edifício intelectual. Quando é preciso organizar, não seu pensamento, mas o mundo, quando se exerce um poder e se tem responsabilidades, a esquizoidia, mesmo leve, é perigosa: ela nos priva das informações indispensáveis".
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