sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Uma grande lição de vida

Certas profissões são especiais por alguns motivos, dentre elas a de carteiro. O carteiro tem a importante missão de visitar as casas das pessoas diariamente para efetuar a entrega das correspondências. A rotina de trabalho é a mesma, todos os dias. As casas visitadas sempre são as mesmas, é como se apenas algumas pessoas recebessem correspondências. As casas podem ser as mesmas, o que difere são os moradores, pois as pessoas mudam muito, principalmente quem aluga uma residência.
A rotina além de ser desanimadora ainda nos leva a fazer sempre a mesma coisa do mesmo jeito. Dependendo do nosso trabalho, acabamos agindo como se fossemos programados para desempenhar certa tarefa dia após dia sem muita inovação. Apesar da inevitável rotina diária, consigo prestar atenção a certos detalhes que para muitas pessoas é totalmente irrelevante.
Certa vez, contemplei uma cena curiosa que me emocionou muito. Se você estivesse ao meu lado e tivesse visto a mesma coisa que eu talvez não achasse nada de extraordinário ao ver duas pessoas na rua. O que isso tem de mais? Vemos pessoas todos os dias e a toda hora, basta sair de casa e pronto!
Naquela manhã de quarta-feira fazia muito calor. O sol forte obrigou muitos moradores a sentar na frente das suas casas procurando ficar embaixo de alguma árvore. O objetivo deles era encontrar alguma sombra refrescante. Após efetuar a entrega na Rua João Manoel Cardinal olhei no relógio e pude perceber que já estava quase na hora de ir almoçar. Foi então que me deparei com uma cena inesquecível. Apesar de estar muito apressado para terminar a entrega das últimas correspondências na parte da manhã, ao ver um casal se aproximando, não pude resistir e encostei a moto. Talvez você esteja pensando; o que há de especial nisso? É apenas algo comum. Nada demais.
Logo a minha frente, vindo em minha direção, uma senhora deficiente estava na sua cadeira de rodas, um homem empurrava a cadeira. O que me comoveu foi o fato dela não ter as duas pernas. Olhei com curiosidade e pude constatar que o senhor era totalmente cego. Ela sem poder andar, ele sem enxergar. A mulher era “os seus olhos” e ele “as suas pernas”. As barreiras físicas foram vencidas pela cooperação mútua. Sempre ouvimos falar dos benefícios do trabalho em equipe, mas nunca tinha presenciado na prática a preciosidade que é trabalhar juntos em prol de um mesmo objetivo.
Por incrível que pareça, o casal conversava animadamente, como se nada de especial estivesse acontecendo. Na verdade, estava acontecendo algo maravilhoso, pelo menos pra mim. Penso nessa cena constantemente. Fico impressionado com a capacidade humana de superação. Aprendi muito naquele dia. Uma verdadeira lição de vida. Sem que eles soubessem, aquele casal me ensinou a valorizar mais a vida e não reclamar tanto. Mesmo com as suas limitações físicas, eles encontraram uma forma criativa de superar as suas limitações e desfrutar com alegria do dom maravilhoso da vida.

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