No dia 19 de dezembro, fui convidado a almoçar na casa das minhas cunhadas. O almoço correu na maior tranqüilidade. Após a refeição, elas comentaram que havia uma casa de joão-de-barro numa árvore do quintal, o interessante é que a entrada da casinha do pássaro estava trancada, com apenas um pequeno orifício onde dava para ver algumas penas. Surgiu deste fato o comentário de que o joão-de-barro macho tinha prendido dentro da casinha a fêmea traidora. O alvoroço foi geral, será que era verdade? Havia uma ave morta dentro da casa de barro? A única coisa que pensamos em fazer foi tirar a casa da árvore e quebrá-la para ver se tinha alguma coisa ali dentro. O meu cunhado a tirou cuidadosamente, todos fizeram um circulo em volta da pequena casa, foi preciso quebrá-la, para a surpresa de todos, no seu interior, “descansava” o corpo inerte de um joão-de-barro. O comentário foi de que a lenda do joão-de-barro traído era verdade. Rimos muito dessa situação. Achei interessante, pois muitos que estavam ali acreditavam piamente na veracidade da história do "joão-de-barro traído”.
Por curiosidade resolvi fazer uma pesquisa na internet para descobrir a origem dessa lenda, o que encontrei foi muito esclarecedor, segue abaixo o resultado da minha investigação.
"Há uma crença popular, inclusive mencionada em literatura ornitológica, de que o joão-de-barro, Furnarius rufus, empareda dentro do ninho a fêmea que o tenha traído. Pessoas adultas, mesmo com relativa experiência de vida, afirmam isto com a maior convicção. Esta estória imputa ao joão-de-barro duas pechas. Primeiro a de que suas esposas são capazes de trair. Segundo, a de que os maridos são capazes de cometer assassinatos passionais.
Na verdade tudo não passa de um mito. E este mito pode ter surgido de dois fatos. O primeiro é de que alguns ninhos abandonados do joão-de-barro são aproveitados por abelhas indígenas como a uruçú-mirim, para fazerem sua colméia. As abelhas fecham a entrada do ninho com uma cera, dando a impressão de ter sido fechado pela ave. Mas olhando-se mais atentamente nota-se o engano.
Outra possível explicação, a meu ver a verdadeira, é a seguinte. Hudson, em uma obra de 1920, cita um interessante episódio ocorrido em Buenos Aires. Uma das aves (não foi possível saber se o macho ou a fêmea, pelo fato de serem muito parecidos) foi acidentalmente pega em uma ratoeira que lhe quebrou ambos os pés. Após liberada com muita consternação por quem havia armado a ratoeira, voou para o ninho onde entrou e não foi mais vista, ali morrendo certamente. O outro membro do casal permaneceu por ali mais dois dias, chamando insistentemente pelo parceiro. Em seguida desapareceu retornando três dias após com um novo parceiro e imediatamente começaram a carregar barro para o ninho, fechando a sua entrada. Depois construíram outro ninho sobre o primeiro e ali procriaram. Hudson viu este fato como mais uma "qualidade" do joão-de-barro, por ter tido o cuidado de sepultar sua parceira.
É possível que esta história, publicada originalmente em um periódico científico, tenha sido divulgada muitas vezes em revistas e jornais, como acontece hoje com diversos assuntos, tornando-se logo de domínio público. Acontece que toda história contada e recontada repetidamente, vai incorporando um pouco do floreado ou mesmo da fantasia de cada um, acabando muitas vezes com seu real sentido totalmente desfigurado. Tudo indica que foi o que aconteceu neste caso".