quarta-feira, 21 de julho de 2010

O primeiro dia como carteiro

No meu primeiro dia de trabalho como carteiro, fui designado para acompanhar um colega no setor onde iria trabalhar. Nós iríamos de bicicleta, pois o local era próximo da região central. Após terminar todo o processo interno, saímos para a entrega externa. Ao chegar à rua onde iríamos começar a entrega, o colega me disse:
- Aqui está a bolsa de cartas, a rua é esta aqui, pode começar a entrega. Vou estar naquela lanchonete, quando terminar, estarei esperando lá.
Fiquei surpreso, pois pensava que eu iria apenas acompanhá-lo. Eu não sabia nenhum nome de rua. Coloquei a bolsa na bicicleta amarela, que não é nada discreta, e fui sem saber direito para onde.
Após algumas horas, consegui terminar com muita dificuldade a entrega. Ao retornar ao local onde o colega estaria me esperando, encontrei-o tomando tereré (bebida muito usada na região de fronteira) tranquilamente. Ele ficou todo o tempo sentado na cadeira, penso que até tirou um cochilo. Foi uma grande decepção para mim, pois pensei que o tratamento seria o mesmo que eu tinha recebido na cidade de Campo Grande, ou seja, total apoio.
Mas enfim, retornamos para a agência. O meu colega foi embora logo após o horário de almoço, e eu fiquei. Achei que também seria dispensado, pois o trabalho de entrega já havia terminado. O supervisor chamou-me e disse:
-Alci, na parte da tarde você vai sair em outro setor, aqui está a bolsa com as correspondências. Como era um setor bem próximo, não haveria a necessidade de ninguém sair comigo. Eu já estava exausto da entrega da manhã, mas ordens são ordens.
Sai novamente. Ao chegar ao primeiro endereço, entreguei a primeira correspondência, e assim sucessivamente. Ao chegar ao último endereço, foi que percebi que havia entregado as cartas e esquecido de entregar os impressos (correspondências com o formato maior do que o das cartas). A bolsa estava ainda pela metade. Incrível! Pensei que estava vazia. Só me restava voltar ao local da primeira entrega e começar tudo de novo. Algumas pessoas riam ao receber a correspondência novamente. Alguns faziam até piada. Eu ouvi muito naquela tarde:
-Ué, carteiro, de novo? Isso que é gostar de entregar duas vezes no mesmo lugar.
Cada endereço era uma vergonha. Quando terminei novamente a entrega, voltei para a agência na certeza de que o expediente havia se encerrado, mas eu estava redondamente enganado, de novo. Para a minha “alegria”, outra bolsa repleta de correspondências me esperava. Naquele dia, eu saí para a entrega em três setores diferentes. Voltei para casa esgotado fisicamente. Esse foi o meu primeiro dia de trabalho. Começou daí a minha longa “amizade” com as cartas.

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