A Revista Superinteressante, edição 256 de setembro de 2008 publicou uma reportagem de Rodrigo Rezende intitulada Inteligência. Achei o texto muito interessante e selecionei um trecho que julgo ser muito esclarecedor sobre o tema em questão. Confira abaixo!
O tamanho da inteligência
Paris, começo do século 20. O psicólogo Alfred Binet recebe uma tarefa do ministro da Educação da França: encontrar um meio de prever quais crianças vindas do interior do país teriam mais possibilidade de enfrentar dificuldades na escola – o governo queria oferecer educação especial a elas. Em 1905, ele publica um teste de raciocínio verbal e matemático, com questões que testam a memória e o potencial de resolver problemas de lógica. O objetivo de Binet era medir a capacidade de compreensão pura e simples, não o conhecimento prévio, colocando em pé de igualdade crianças que só sabiam capinar mato com as que recitavam Shakespeare. Pouco depois, o alemão Wilhelm Stern criou um sistema de pontuação-padrão para o teste e lhe deu o nome de Intelligenz-Quotient. Nascia o método mais-bem sucedido da história para medir a inteligência: o famoso teste de QI. E ele revolucionaria o que entendemos como inteligência. Até então a maior parte dos estudiosos entendia o nosso intelecto a partir do conceito da tabula rasa, – a idéia do filósofo John Locke de que a mente humana é uma folha em branco que vai sendo preenchida durante a vida. Com a adoção dos testes de QI, esse ponto de vista perdeu terreno – afinal, se uma criança semi-analfabeta podia apresentar um QI maior que uma instruída, essa história de folha em branco era uma furada. E a inteligência passou a ser considerada cada vez mais como algo inato, como um mero produto do que está escrito nos genes. “O fato de que a maior questão atual sobre inteligência é se o QI depende 50% ou 80% dos genes mostra o quanto o debate mudou”, afirma o geneticista Marc McGull.
Mas, afinal, como uma característica que parece depender tanto do aprendizado pode estar definida ainda antes do nascimento? Na verdade, logo ao nascer a relação entre o QI e nossos genes não é assim tão evidente. Apenas 20% da inteligência dos bebês pode ser prevista a partir de fatores genéticos (é o que mostra estudos com pais e filhos). Só que, quanto mais passa o tempo, mais aumenta o poder de previsão deles. Na infância, ele sobe para 40%. Na fase adulta, decola para 60%. E após a meia-idade pode chegar a 80%. Esses dados mostram que os genes responsáveis pela inteligência podem ser vistos como uma espécie de balde, e o aprendizado durante a vida como a água que enche o balde. Ter mais educação vai levar você mais rápido a encher o balde de água. Mas, caso ele seja muito raso, não vai adiantar jogar muita água lá. Ou seja: nem toda a educação do mundo poderá tornar realmente brilhante alguém que nasceu com a inteligência apagada. Só que esse efeito tem um lado positivo: se você tiver vocação genética para ser um físico quântico ou coisa que o valha, tem como conseguir isso mesmo sem ter tido uma instrução boa na infância.
Paris, começo do século 20. O psicólogo Alfred Binet recebe uma tarefa do ministro da Educação da França: encontrar um meio de prever quais crianças vindas do interior do país teriam mais possibilidade de enfrentar dificuldades na escola – o governo queria oferecer educação especial a elas. Em 1905, ele publica um teste de raciocínio verbal e matemático, com questões que testam a memória e o potencial de resolver problemas de lógica. O objetivo de Binet era medir a capacidade de compreensão pura e simples, não o conhecimento prévio, colocando em pé de igualdade crianças que só sabiam capinar mato com as que recitavam Shakespeare. Pouco depois, o alemão Wilhelm Stern criou um sistema de pontuação-padrão para o teste e lhe deu o nome de Intelligenz-Quotient. Nascia o método mais-bem sucedido da história para medir a inteligência: o famoso teste de QI. E ele revolucionaria o que entendemos como inteligência. Até então a maior parte dos estudiosos entendia o nosso intelecto a partir do conceito da tabula rasa, – a idéia do filósofo John Locke de que a mente humana é uma folha em branco que vai sendo preenchida durante a vida. Com a adoção dos testes de QI, esse ponto de vista perdeu terreno – afinal, se uma criança semi-analfabeta podia apresentar um QI maior que uma instruída, essa história de folha em branco era uma furada. E a inteligência passou a ser considerada cada vez mais como algo inato, como um mero produto do que está escrito nos genes. “O fato de que a maior questão atual sobre inteligência é se o QI depende 50% ou 80% dos genes mostra o quanto o debate mudou”, afirma o geneticista Marc McGull.
Mas, afinal, como uma característica que parece depender tanto do aprendizado pode estar definida ainda antes do nascimento? Na verdade, logo ao nascer a relação entre o QI e nossos genes não é assim tão evidente. Apenas 20% da inteligência dos bebês pode ser prevista a partir de fatores genéticos (é o que mostra estudos com pais e filhos). Só que, quanto mais passa o tempo, mais aumenta o poder de previsão deles. Na infância, ele sobe para 40%. Na fase adulta, decola para 60%. E após a meia-idade pode chegar a 80%. Esses dados mostram que os genes responsáveis pela inteligência podem ser vistos como uma espécie de balde, e o aprendizado durante a vida como a água que enche o balde. Ter mais educação vai levar você mais rápido a encher o balde de água. Mas, caso ele seja muito raso, não vai adiantar jogar muita água lá. Ou seja: nem toda a educação do mundo poderá tornar realmente brilhante alguém que nasceu com a inteligência apagada. Só que esse efeito tem um lado positivo: se você tiver vocação genética para ser um físico quântico ou coisa que o valha, tem como conseguir isso mesmo sem ter tido uma instrução boa na infância.
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