O Brasil é um país extremamente
religioso, vários credos convivem juntos numa diversidade religiosa
impressionante. Dentre as várias religiões existentes a maior delas é o
cristianismo com suas diversas ramificações. A cada dia surgem novas igrejas com
nomes dos mais exóticos. Diante de tanta diversidade e das doutrinas tão divergentes
há um pensamento comum a todas elas- o pensamento de que o ser humano foi
criado à imagem e semelhança de Deus e por isso, todo homem, mulher e criança
tem um valor intrínseco e inalienável como ser humano. Dentro dessa visão o
cristão deveria libertar as pessoas de tudo que seja desumanizante.
Na teoria parece ser fácil se preocupar
com as mazelas dos outros a ponto de se envolver pessoalmente, mas na prática isso
raramente acontece. O discurso pode ser tão comovente a ponto de levar às
lágrimas, mas só discursar com eloqüência não basta. Entre o mero discurso e a ação
há um abismo que precisa ser transposto urgentemente. Centenas de livros já
foram escritos sobre a importância de ajudar os mais necessitados, milhares de
sermões foram pregados do púlpito de igrejas das mais diversas correntes
religiosas ensinando o crente a amar o próximo como a si mesmo. O amor é
exaltado como o maior dos dons. Líderes religiosos proclamam que o amor a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo é a essência da vontade de
Deus para a humanidade. As palavras são belíssimas e momentaneamente toca os
corações, infelizmente, logo a comoção vai embora e junto com ela todo o
entusiasmo inicial de muitos ouvintes.
Em qualquer igreja cristã que você
visitar será fácil perceber que há tantas programações a serem feitas e as
pessoas estão tão ocupadas com as suas diversas atividades religiosas que o que
deveria ser o mais importante para a igreja (as pessoas) acaba ficando em
segundo plano. Logicamente que ninguém é negligente com as necessidades alheias
intencionalmente, mas por incrível que pareça, o religioso que tanto defende e
exalta o amor desinteressado por todas as pessoas muitas vezes cai na armadilha
de cuidar, proteger e defender mais da sua organização religiosa do que do
próprio ser humano.
Certo religioso foi procurado por uma
mulher desabrigada em busca de auxilio. Ele- muito sincero, sem dúvida, mas
também muito ocupado e não sabendo como ajudá-la- prometeu orar por ela.
Posteriormente a mulher escreveu este poema e entregou-o a um dos líderes
religiosos da comunidade:
Eu
tive fome,
e
tu formaste um grupo humanitário
para
discutir minha fome.
Estive
preso
e
tu te retiraste discretamente para a tua capela
e
oraste pela minha libertação.
Estava
nua
e,
na tua mente, questionaste
a
moralidade de minha aparência.
Estive
enferma
e
tu te ajoelhaste e agradeceste a Deus por tua saúde.
Estava
desabrigada
e
tu me falaste do abrigo espiritual do amor de Deus
Estava
solitária
e
tu me deixaste sozinha a fim de orar por mim,
Parecias
tão santo, tão próximo de Deus!
Mas
eu ainda estou com fome... e sozinha... e com frio.
O
mundo fora das quatro paredes de uma igreja é bem diferente da sua realidade
interna. A igreja precisa refletir seriamente sobre o seu real papel numa
sociedade cada vez mais carente de cuidados. Que ninguém mais procure a ajuda
da igreja e volte para casa se sentindo com fome, sozinho e com frio. O amor
precisa ser real e não apenas um amor ilusório.
Nenhum comentário:
Postar um comentário