quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Carta de um leitor


Leio semanalmente a Revista Época e fiquei surpreso com o teor do texto: Uma criança=papai +mamãe da colunista Ruth de Aquino na edição de 21 de janeiro de 2013.
Após ler atentamente os argumentos em defesa dessa “nova família” tão defendida pela mídia fiquei a pensar que talvez eu seja mesmo uma peça rara de museu. Parece que defender a chamada família tradicional virou motivo de chacota para muitos formadores de opinião. Fiquei me perguntando se há realmente alguma razão para criticar a manifestação que ocorreu em Paris. Se os homossexuais podem livremente fazer manifestações públicas em defesa daquilo que consideram serem os seus direitos por que é os demais membros da sociedade não podem expor as suas convicções não concordando com o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo ou outro pensamento divergente? O que é condenável é condenar alguém apenas pela sua opção sexual. Sou totalmente a favor do direito das pessoas de viverem da forma que acharem melhor, mas mesmo a escolha pela relação homo afetiva tem o seu preço e isso é inevitável. 
O texto cita o caso de uma menina de 10 anos filha de um casal homossexual que está muito bem integrada na escola, mas isso nem de longe pode ser considerado uma unanimidade nos lares homossexuais.
Discordo da autora quando diz que: “Os héteros mais fanáticos surtam só de pensar que um casal gay, de homens e mulheres, tenha direito à paternidade ou á maternidade”. Será mesmo que tudo não passa de puro fanatismo? A ideia de pessoas preocupadas unicamente com a formação e o bem estar dessas crianças não me parece tão absurda assim.
Gostaria de deixar uma pergunta no ar. Se a sociedade acabar aceitando numa boa o casamento homossexual como prevê o texto tudo estará resolvido como num simples passe de mágica?  
É natural que nas famílias tradicionais tenha problemas entre os seus membros, mas isso não significa que uma família homossexual não tenha os mesmo problemas e talvez ainda maiores por uma série de razões óbvias.
O abandono e a falta de amor para com as crianças não é exclusividade de pais héteros. Um casal gay vive os mesmos desafios enfrentados por qualquer outro casal. Há a possibilidade de separação, abandono, violência doméstica, maus tratos, abusos e quem mais sofre com tudo isso são as crianças.
Posso afirmar com todas as letras que a família “arrumadinha e feliz” ao contrário do que o texto sugere existe sim e asseguro que me sinto plenamente realizado como homem, marido e pai de uma preciosa menina. Lamento profundamente que a maioria das pessoas viva num relacionamento fracassado, sem saber de fato o que é se sentir verdadeiramente amado e nem o que é amar. É fato incontestável que nesse novo mundo que tanta gente defende, a figura de um pai e de uma mãe criando juntos os seus filhos com amor ainda é insubstituível. A família dita tradicional não está falida em hipótese alguma. Ela ainda é o grande sustentáculo da sociedade e isso dificilmente irá mudar como alguns almejam.  
A própria natureza se encarregou de exaltar o relacionamento heterossexual, pois, naturalmente, um casal homossexual jamais poderá perpetuar a nossa espécie.
Acho que a mulher é a obra prima da criação. Ela merece todas as conquistas que vem tendo ultimamente, mas quando ela saiu do seu lar para conquistar o mundo quem mais perdeu foram os seus filhos com a sua ausência. O resultado está estampado nas capas de revistas, jornais e nos noticiários dos telejornais.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Visitante ilustre

Era quase duas horas da tarde quando a senhora ainda sonolenta ouviu alguém batendo palmas no portão da sua humilde casa. O calor no interior da residência era insuportável e isso obrigara a mulher a deixar o velho e barulhento ventilador funcionando o tempo todo. Devido à idade já avançada dona Maria tinha certa dificuldade em se locomover. Ela morava sozinha, pois era viúva há algum tempo.

Levantou-se da cama para pegar os óculos que descansavam em cima de um criado mudo. Nesse exato momento ouviu o som das palmas novamente, mas dessa vez com maior intensidade. Procurou se arrumar o mais rápido possível para atender o insistente visitante. Ainda dentro de casa gritou com todas as suas forças: “Já vou!”

No portão da residência dona Maria encontrou-se com uma figura simpática e conhecida da vizinhança. O homem parecia estar muito cansado, gotas de suor escorriam abundantemente pelo seu rosto como se fosse uma pequena cachoeira. Na sua face era possível ver claramente as marcas deixadas por tanta exposição ao sol. Carregava consigo uma bolsa enorme de cor azul nos ombros. Vestia uma roupa que parecia ser algum tipo de uniforme. Os sapatos que o homem calçava eram pretos, a calça de cor azul escuro, usava um cinto com uma fivela prateada, a camisa era de duas cores: azul e amarelo.

A senhora ficou admirada ao ver alguém trabalhando em tão difíceis condições. Se já era difícil ficar dentro de casa com um ventilado ligado quanto mais trabalhar o dia inteiro naquele calor- pensou. Os vizinhos sempre comentavam que o homem era cortes e bem humorado mesmo diante dos desafios da sua profissão e isso gerou uma profunda admiração nos moradores do bairro. Todos o chamavam carinhosamente de seu Zé e ele conhecia cada morador pelo seu nome.

Em qualquer estação do ano lá estava ele percorrendo as ruas do bairro. Às vezes o frio era tão intenso que algumas pessoas nem saiam das suas casas para atendê-lo. O pobre homem ficava esperando em vão para realizar o seu trabalho. Em outras ocasiões a chuva intensa o obrigava a procurar um lugar coberto para se esconder. Em certo sentido o clima era o seu maior inimigo, pois ele tinha não só a capacidade de dificultar o seu trabalho bem como afetava negativamente a sua saúde.

Dona Maria olhou fixamente para o homem e disse de forma mais amável possível:

- Filho, você está muito cansado, gostaria de tomar um pouco de água gelada?

A resposta não poderia ser outra diante das circunstâncias.

- Eu gostaria muito. Obrigado.

-Espere um pouco que eu já volto. Por favor, entre aqui na varanda para se esconder desse sol terrível. É um prazer receber uma visita tão ilustre.

- Com licença.

Entrou na varanda só para não ser indelicado com aquela bondosa senhora. Enquanto esperava o homem coçou a cabeça e lembrou-se de que durante toda aquela manhã e começo de tarde ninguém havia oferecido a ele um copo d’água mesmo diante da sua fisionomia sedenta. Era certo de que ninguém lhe desejava mal, pelo contrário, mas o fato é que ninguém até então tinha se preocupado a ponto de saciar a sua sede.

A senhora voltou com uma garrafa e um copo nas mãos.

-Tome a vontade. Está bem gelada.

-Nem sei como agradecer.

Enquanto ele tomava aquele líquido tão precioso sentiu que as suas forças foram revigoradas. A mulher saiu da sua presença entrando novamente na casa. Voltou com uma caixa de presente nas mãos.

- Estava esperando você aparecer para lhe dar um presente em reconhecimento ao seu trabalho pela comunidade. Por coincidência, hoje é o dia 25 de janeiro, o dia em que comemoramos o Dia do Carteiro. Gostaria muito que você aceitasse.

O homem ficou sem reação. Ao passar o choque inicial disse:

- Nunca um cliente fez isso por mim em todos os anos de profissão. Jamais vou me esquecer da senhora. Obrigado!

Com uma mão o homem recebeu o presente com a outra entregou uma correspondência. Enquanto assinava a lista de registro dona Maria levou o carteiro às lágrimas ao dizer- O nosso país precisa de mais pessoas trabalhadoras como vocês. Diante de tanta desonestidade e preguiça o carteiro é um símbolo de que apesar das dificuldades é possível ganhar a vida honestamente.

Ambos se abraçaram e o carteiro deixou o local ainda emocionado.

A curiosidade fez com que ele parasse em baixo de uma árvore para se esconder do sol e abrisse o primeiro presente que recebera como carteiro. Rasgou o papel, abriu a caixa e... As lágrimas foram inevitáveis. Segurou nas mãos o troféu dourado e leu o que estava gravado na placa: Homenagem ao Herói das ruas- o carteiro.

Dentro da caixa tinha um cartão na forma de uma camisa de cor azul e amarelo. Abriu o cartão onde estava escrito:

Meu herói não tem poderes

Meu herói pode se ferir

Meu herói muito se cansa

Meu herói pode sentir


Sentir o meu carinho

Sentir a minha admiração

Sentir que é estimado

Sentir com o coração

Ao guardar cuidadosamente o cartão no bolso da sua calça o carteiro percebeu a importância do que é comemorado no dia 25 de janeiro. O carteiro é um profissional indispensável para o desenvolvimento do país, por isso, o Dia do Carteiro deve ser lembrado por toda a sociedade.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Julgando pessoas

O assunto é naturalmente polêmico. É possível que gere discussões acaloradas. Abordá-lo requer certa dose de coragem, pois as opiniões sobre ele sempre são muito divergentes. Cada pessoa tem as suas próprias convicções e é preciso respeitá-las, por isso, como um simples cidadão atrevo-me a expor o que penso sobre tão controverso tema.

A Constituição Federal garante a todos a liberdade de expressão, sendo assim, farei uso do meu direito legal de expressar as minhas opiniões a respeito do “assunto”. Talvez você esteja se perguntando, afinal, do que ele está falando?

A simples menção da palavra homossexualismo causa repulsa em muita gente. A opção sexual diferente do convencional é desculpa para a perpetuação do preconceito e da discriminação. Apesar de não concordar com a prática homossexual por diversas razões pessoais sou um defensor do direito das pessoas de viverem o seu estilo de vida da forma que acharem melhor, desde que não prejudiquem ou ofendam os outros.

Apesar de ser uma minoria da população os homossexuais precisam ser tratados com todo o respeito e isso nem sempre é visto na sociedade. Eles são na sua imensa maioria cidadãos de bem, assim como o restante das pessoas. O fato de optarem por um estilo de vida diferente não os tornam piores e nem melhores do que os outros. Condenáveis são: o egoísmo, o desrespeito e a promiscuidade, mas isso pode afetar a todos, independente da opção sexual de cada um.

É triste constatar que muita gente julga mal alguém apenas por puro preconceito. Sem conhecer a pessoa é praticamente impossível saber de fato como ela é. Por que evitar o contato com alguém só porque ele ou ela é homossexual? Será o medo da zombaria dos amigos? O receio de acharem que você também é um gay? Uma pessoa bem resolvida com as suas preferências sexuais não se importa com nada disso.

No livro Parábolas Eternas há uma história muito interessante que exemplifica bem como podemos condenar alguém achando sinceramente que estamos agindo corretamente quando na verdade estamos totalmente equivocados. As aparências enganam e o erro às vezes pode não ser do outro, mas sim daquele que julgou precipitadamente.

Uma senhora ia fazer uma viagem de avião e, no caminho para a sala de embarque, resolveu comprar uma revista e um pacote de biscoitos. Já na sala, sentou-se numa poltrona para descansar e ler um pouco à espera do vôo. Ao lado dela, sentou-se um homem e, quando ela pegou o primeiro biscoito, ele também pegou um. A senhora sentiu-se ultrajada, mas não disse nada e apenas pensou: “Que sujeito abusado e atrevido”.

A cada biscoito que ela pegava o homem também pegava um. A senhora ia ficando tão irada que não conseguia se conter e seu rosto deixava à mostra toda a sua revolta, para com aquele homem.

Restava apenas um biscoito e ela pensou: “O que esse cara vai fazer agora”?

E então o homem pegou o biscoito e partiu-o ao meio deixando a outra metade para ela. Ela, não suportando mais aquela situação, fechou a revista com fúria, pegou sua bolsa e dirigiu-se ao embarque.

Já dentro do avião, ela sentou-se na sua poltrona e, para sua surpresa, seu pacote de biscoitos estava intacto em sua bolsa. A vergonha e sentimento de culpa vieram à tona e não havia mais como se desculpar. O homem havia dividido com ela os biscoitos dele sem se sentir revoltado ou indignado enquanto ela bufava de ódio por julgar errada a situação.

Seria ingênuo achar que com apenas um pequeno texto eu poderia mudar a sua forma de pensar. O meu objetivo é apenas levá-lo a refletir sobre o assunto. Ninguém é obrigado a aceitar a prática homossexual, mas isso jamais deveria ser motivo para humilhar, menosprezar e reter o carinho tão necessário ao bem estar do ser humano. Se sentir amado, independentemente de qualquer outra coisa, é de extrema importância para a nossa felicidade. Pense nisso!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Utopia de um sonho

Alguns sonhos são tão reais que é difícil distinguir a fantasia da realidade. Certas pessoas ficam tão impressionadas com um sonho que procuram encontrar alguma interpretação lógica para ele. Os mais curiosos podem comprar nas bancas de jornal revistas que supostamente explica detalhadamente o significado de todo tipo de sonho, por absurdo que ele possa parecer.

O senhor J- é assim quer ser conhecido- está disposto a partilhar com o leitor da sua história pessoal e o impacto que um simples sonho teve na sua finita existência. Talvez pense que alguém possa ajudá-lo. Será preciso ouvir atentamente o que ele tem para contar até o final para se inteirar do seu drama. O leitor pode ficar tranquilo, os fatos serão narrados com objetividade, pois ele não gosta muito de rodeios, sempre vai direto ao ponto. A sua história nunca foi contada, por isso, sinta-se um privilegiado por ser o primeiro a ouvi-la. Vamos deixar de rodeios e deixar que o próprio senhor J conte o seu sonho. É preciso esclarecer que nenhuma explicação será dada, cabe ao leitor tirar as suas próprias conclusões.

“Eu tive um sonho. Sonhei que estava morando em outro país com a minha família. Como posso ter certeza de que não era o Brasil? Logo você vai saber. O lugar era muito diferente de tudo o que conheci nos meus 59 anos de vida.

Acordei pela manhã com o desejo de respirar um pouco de ar fresco. Nos primeiros momentos daquele novo dia notei em mim uma alegria inexplicável. Notei que o meu quarto era lindamente decorado, os móveis eram sofisticados. Ao abrir a porta da sala fui surpreendido por uma cena singular. Olhei em volta e fiquei espantado ao ver que nenhuma casa da rua tinha muro ou cerca. Era como se a quadra inteira pertencesse a um mesmo terreno. Fiquei boquiaberto quando um homem corpulento se aproximou e gentilmente me convidou para tomar café da manhã com ele. Não pude resistir tamanha gentileza. Confesso que foi o desjejum mais prazeroso que tive na vida. Apesar de nunca ter visto aquele homem antes, conversamos demoradamente como se fossemos amigos íntimos.

Entrei em casa ainda atordoado, sem saber direito o que estava acontecendo. Sentei no sofá e pensei que tudo aquilo poderia ser apenas um sonho e nada mais. Repentinamente alguém entra na sala e me abraça. Apesar do susto inicial, fiquei feliz e retribui o gesto de carinho. O homem então me diz que toda a vizinhança iria se reunir no final da tarde para comemorar o meu aniversário. Eu não precisaria comprar nada, apenas desfrutar da festa organizada em minha homenagem.

Fui trabalhar ainda mais confuso. No percurso até o trabalho fiquei estarrecido com o que vi. A cidade era belíssima e extremamente limpa. Nunca tinha visto tamanho respeito entre motoristas, pedestres, ciclistas e motociclistas. Apesar da grande movimentação todos pareciam se entender perfeitamente. No centro da cidade não havia andarilhos e nem crianças pedindo dinheiro. Não vi ninguém trabalhando como segurança e nenhuma viatura policial. Parei o carro e perguntei a uma senhora se os policiais estavam em greve. Ao meu ouvir ela começou a rir e disse surpresa que ali não existia a necessidade de ter policiais, pois não havia criminosos e os cidadãos eram honestos.

Cheguei ao local onde trabalho cada vez mais pensativo. Antes de começar o expediente, o chefe pede a atenção de todos. Com uma voz mansa ele pronuncia palavras de ânimo e motivação. Todos dão as mãos e agradecem a Deus por mais um dia de vida e pedem forças para enfrentar os desafios sem desanimar. O clima entre as pessoas era maravilhoso. Trabalhar ali era tudo o que uma pessoa poderia esperar e muito mais. No decorrer do dia não ouvi nenhuma reclamação de nenhum colega. Ao fim da jornada de trabalho estava cansado, mas muito feliz por poder trabalhar num lugar tão agradável.

Voltei para casa radiante. Ao chegar, que recepção mais calorosa! Diferentemente do habitual, a minha esposa me recebeu com beijos e mimos logo na porta da sala. A minha filha que antes nem falava mais comigo veio ao meu encontro e falou as palavras mais lindas que eu ouvira naquele dia: Pai eu te amo. Era bom demais para ser verdade. Dei um beliscão mo meu braço achando que tudo não passava de um sonho louco.

Após tomar um relaxante banho fui a uma festa animadíssima- a minha. Não sabia que tantas pessoas gostavam de mim. Após um dia de tantas alegrias fui dormir com uma única certeza: se tudo não passasse apenas de um sonho eu não queria acordar mais.

Acordei com o barulho de pessoas conversando. Olhei pela janela e vi não só o muro de casa como vi também que o meu vizinho estava levantando ainda mais a altura do seu muro. Fiquei desesperado! Tentei voltar a dormir, pensei que se pegasse no sono novamente poderia voltar ao meu mundo de fantasia, mas... Nunca entendi por que vivi no paraíso por um dia e tive que voltar para a minha vida cheia de frustração. Se alguém tiver alguma explicação para o meu sonho, por favor, me conte”.