Era quase duas horas da tarde quando a senhora ainda sonolenta ouviu alguém batendo palmas no portão da sua humilde casa. O calor no interior da residência era insuportável e isso obrigara a mulher a deixar o velho e barulhento ventilador funcionando o tempo todo. Devido à idade já avançada dona Maria tinha certa dificuldade em se locomover. Ela morava sozinha, pois era viúva há algum tempo.
Levantou-se da cama para pegar os óculos que descansavam em cima de um criado mudo. Nesse exato momento ouviu o som das palmas novamente, mas dessa vez com maior intensidade. Procurou se arrumar o mais rápido possível para atender o insistente visitante. Ainda dentro de casa gritou com todas as suas forças: “Já vou!”
No portão da residência dona Maria encontrou-se com uma figura simpática e conhecida da vizinhança. O homem parecia estar muito cansado, gotas de suor escorriam abundantemente pelo seu rosto como se fosse uma pequena cachoeira. Na sua face era possível ver claramente as marcas deixadas por tanta exposição ao sol. Carregava consigo uma bolsa enorme de cor azul nos ombros. Vestia uma roupa que parecia ser algum tipo de uniforme. Os sapatos que o homem calçava eram pretos, a calça de cor azul escuro, usava um cinto com uma fivela prateada, a camisa era de duas cores: azul e amarelo.
A senhora ficou admirada ao ver alguém trabalhando em tão difíceis condições. Se já era difícil ficar dentro de casa com um ventilado ligado quanto mais trabalhar o dia inteiro naquele calor- pensou. Os vizinhos sempre comentavam que o homem era cortes e bem humorado mesmo diante dos desafios da sua profissão e isso gerou uma profunda admiração nos moradores do bairro. Todos o chamavam carinhosamente de seu Zé e ele conhecia cada morador pelo seu nome.
Em qualquer estação do ano lá estava ele percorrendo as ruas do bairro. Às vezes o frio era tão intenso que algumas pessoas nem saiam das suas casas para atendê-lo. O pobre homem ficava esperando em vão para realizar o seu trabalho. Em outras ocasiões a chuva intensa o obrigava a procurar um lugar coberto para se esconder. Em certo sentido o clima era o seu maior inimigo, pois ele tinha não só a capacidade de dificultar o seu trabalho bem como afetava negativamente a sua saúde.
Dona Maria olhou fixamente para o homem e disse de forma mais amável possível:
- Filho, você está muito cansado, gostaria de tomar um pouco de água gelada?
A resposta não poderia ser outra diante das circunstâncias.
- Eu gostaria muito. Obrigado.
-Espere um pouco que eu já volto. Por favor, entre aqui na varanda para se esconder desse sol terrível. É um prazer receber uma visita tão ilustre.
- Com licença.
Entrou na varanda só para não ser indelicado com aquela bondosa senhora. Enquanto esperava o homem coçou a cabeça e lembrou-se de que durante toda aquela manhã e começo de tarde ninguém havia oferecido a ele um copo d’água mesmo diante da sua fisionomia sedenta. Era certo de que ninguém lhe desejava mal, pelo contrário, mas o fato é que ninguém até então tinha se preocupado a ponto de saciar a sua sede.
A senhora voltou com uma garrafa e um copo nas mãos.
-Tome a vontade. Está bem gelada.
-Nem sei como agradecer.
Enquanto ele tomava aquele líquido tão precioso sentiu que as suas forças foram revigoradas. A mulher saiu da sua presença entrando novamente na casa. Voltou com uma caixa de presente nas mãos.
- Estava esperando você aparecer para lhe dar um presente em reconhecimento ao seu trabalho pela comunidade. Por coincidência, hoje é o dia 25 de janeiro, o dia em que comemoramos o Dia do Carteiro. Gostaria muito que você aceitasse.
O homem ficou sem reação. Ao passar o choque inicial disse:
- Nunca um cliente fez isso por mim em todos os anos de profissão. Jamais vou me esquecer da senhora. Obrigado!
Com uma mão o homem recebeu o presente com a outra entregou uma correspondência. Enquanto assinava a lista de registro dona Maria levou o carteiro às lágrimas ao dizer- O nosso país precisa de mais pessoas trabalhadoras como vocês. Diante de tanta desonestidade e preguiça o carteiro é um símbolo de que apesar das dificuldades é possível ganhar a vida honestamente.
Ambos se abraçaram e o carteiro deixou o local ainda emocionado.
A curiosidade fez com que ele parasse em baixo de uma árvore para se esconder do sol e abrisse o primeiro presente que recebera como carteiro. Rasgou o papel, abriu a caixa e... As lágrimas foram inevitáveis. Segurou nas mãos o troféu dourado e leu o que estava gravado na placa: Homenagem ao Herói das ruas- o carteiro.
Dentro da caixa tinha um cartão na forma de uma camisa de cor azul e amarelo. Abriu o cartão onde estava escrito:
Meu herói não tem poderes
Meu herói pode se ferir
Meu herói muito se cansa
Meu herói pode sentir
Sentir o meu carinho
Sentir a minha admiração
Sentir que é estimado
Sentir com o coração
Ao guardar cuidadosamente o cartão no bolso da sua calça o carteiro percebeu a importância do que é comemorado no dia 25 de janeiro. O carteiro é um profissional indispensável para o desenvolvimento do país, por isso, o Dia do Carteiro deve ser lembrado por toda a sociedade.
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