Na TV o apresentador
informa que no Brasil o número de aparelhos celulares é o dobro do número de
habitantes. Sem demonstrar muito interesse no assunto a jovem Manu troca de
canal para ver se a sua novela preferida já começou, mas ainda está passando o
Jornal Nacional. Enquanto aguarda ansiosa mais um capítulo da telenovela Amor digital um repórter anuncia a
próxima reportagem que será exibida logo após os comerciais. Apesar de não
gostar de assistir o mais famoso telejornal em exibição no país a chamada da
matéria chama a sua atenção. A reportagem dizia que o número de pessoas com
acesso a internet no mundo atingira o impressionante número de oito bilhões e
isso representava quase 80% da população mundial. A moça ficou impressionada
com a informação. Ela já tinha percebido que há algum tempo o aparelho celular
e a internet eram quase onipresentes na vida dos jovens. Por diversas vezes
tinha ido para a secretaria da escola onde estudava, inclusive tinha sido
suspensa mais de uma vez por usar o aparelho celular na sala de aula.
Manu não tinha
nenhuma vergonha de falar que dormia abraçada com o aparelho. A sua vida era
ficar trancada no quarto enviando mensagens para os amigos, quando alguém
falava com ela nem prestava atenção, pois os seus olhos sempre estavam voltados
para a telinha do celular. Vivia como se estivesse no mundo da lua, sempre com
o olhar perdido, quase alienada da realidade. Dizia para todos que se tivesse
que ficar sem o aparelho celular morreria de tristeza.
Naquela noite dormiu
por volta da meia noite. Antes de pegar no sono abraçou o seu vicio como se ele
fosse um ursinho de pelúcia. Na sua mente pensava que a melhor coisa que o
homem tinha inventado estava bem ali em suas mãos. Como o mundo pôde viver
tanto tempo sem as maravilhas da tecnologia?-se
perguntava a todo instante.
Na manhã seguinte
acordou por volta das nove horas e antes mesmo de ir ao banheiro já pensou em
ligar para a sua amiga para combinarem de irem juntas ao cinema assistirem ao
grande sucesso do momento, a comédia romântica: Só mais uma ligação. Ficou surpresa ao olhar para a tela do
aparelho e ver que ela estava totalmente apagada. Tinha certeza de que havia
ainda muito bateria para acabar a carga numa noite apenas. Pulou da cama
apavorada. E agora, o que fazer?
Na sala os pais
assistiam com grande interesse ao plantão Globo de jornalismo. Todos os canais
de televisão noticiavam a mesma coisa. Algo terrível tinha acontecido no mundo
e não havia nenhuma explicação lógica até o momento.
-Será esse um sinal
dos fins dos tempos?- perguntou dona Maria ao
marido.
-Nunca ouvi falar
que tal coisa é um sinal do fim do mundo- respondeu Nestor sem demonstrar muito
interesse.
-Acho que o mundo
vai acabar pra muita gente.
-Não exagere
querida. Para nós não vai mudar muita coisa com essa notícia.
-Eu sei, mas eu
estou preocupada com a reação da nossa filha ao saber o que está acontecendo.
-Acho melhor não
contarmos nada para ela, pelo menos por enquanto.
-Concordo. Vamos
desligar a televisão e fazer de conta que não sabemos de nada.
A TV é desligada e
os pais de Manu tentam disfarçar a expressão de surpresa ao verem a filha se
aproximar demonstrando certa inquietação.
-Bom dia- disse
Manu.
-Bom dia filha.
-Tem alguma coisa
estranha acontecendo, pois não consigo fazer uma ligação no meu celular.
-Pode ser algum
problema com a operadora.
-Talvez. Vou ligar o
computador e enviar uma mensagem pelo Facebook para a Jose.
-Tudo bem querida,
mas antes, por favor, lave o rosto, escove os dentes e penteie o cabelo. Você
está horrível!
-Preciso falar com
ela urgente.
-Antes faça o que te
pedi.
-Mas mãe... Eu...
-Nada de desculpas.
Tá bom.
Manu senta-se em
frente ao computador e aguarda ansiosa para poder enviar a mensagem para a
amiga, mas não consegue acessar a internet.
-Pai! O senhor pagou
a conta da internet?-pronunciou essas palavras com certo tom de acusação.
-É claro que paguei.
-Por que é que não
consigo entrar na internet?
-Não tenho a mínima
ideia.
Era notória a
expressão de irritação da jovem. O celular não estava funcionando e para piorar
ainda mais as coisas nem a internet.
-Vou ligar para a
Fabiana para ver se ela sabe o que está acontecendo- disse num tom de voz que
já demonstrava certo desespero.
Pegou o telefone
fixo e... Estava mudo.
-Isso só pode ser
algum tipo de brincadeira! -vociferou.
-Calma filha. Não é
o fim do mundo também.
-É claro que é fim
dos tempos!
-Logo eles resolvem
o problema e tudo voltará ao normal.
-Assim espero. Vou
ir à casa da Paula para ver se ela sabe de alguma coisa.
-Coma alguma coisa
antes.
-Estou sem fome e,
além disso, como comer diante de uma catástrofe como essa?
-Que exagero- disse a mãe ironicamente.
-Não vejo graça nenhuma mãe.
-Credo! Não posso nem brincar mais?
-Vou sair para não brigar com a senhora.
Ela sai de casa e a cena que vê na rua a deixa literalmente de boca
aberta.
-Meu Deus! O que é que está acontecendo?- pensou em voz alta.
Continua na próxima
semana
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