Escolher
a profissão de professor é um ato de coragem e não é exagero dizer que é também
um ato de heroísmo. Inicialmente, os desafios são muito maiores do que os
candidatos a educadores imaginam, posteriormente, eles só tendem a aumentar. O
vestibular é só o pontapé inicial de uma longa jornada. Para muitos estudantes,
conseguir uma das poucas vagas oferecidas pelas instituições de ensino públicas
é algo improvável, por isso, o que lhes resta é o ingresso numa faculdade de
ensino superior particular. Conseguir se aprovado no vestibular é bem mais
fácil do que arcar com os custos mensais do curso. As despesas vão muito além
das mensalidades e é comum elas consumirem praticamente quase toda a renda do
estudante. Muitos pais se sacrificam para que os filhos possam se dedicar
exclusivamente aos estudos. Certos pais gastam o que podem e o que não podem
para ver realizado o sonho de ter um filho formado. Quem não tem o privilégio
de só se preocupar com os estudos precisa trabalhar duro para conseguir pagar o
curso. Ás vezes o aluno não tem míseros centavos para tirar cópias das
apostilas exigidas pelos professores.
Estudar,
para muita gente significa enfrentar com perseverança a triste realidade da
falta de dinheiro e do esgotamento físico e mental. O que move pessoas a
continuar sonhando num futuro melhor apesar do presente pouco promissor? Nada
mais nada menos do que a certeza de que quando receber o seu diploma as coisas
vão melhorar e então poderão exercer a sua nobre profissão de formar cidadãos
de bem.
O dia
da formatura é o momento mais esperado. Todo o esforço e sacrifício enfim são
coroados. O êxito é compartilhado com euforia com familiares e amigos. Uma
noite verdadeiramente inesquecível. Após toda a comemoração é hora de imprimir o
currículo e sair confiante em busca de trabalho. O mais novo profissional da
educação sai de casa pensando que logo estará dando aula e finalmente as coisas
vão mudar, mas...
Vivendo
num país onde o que é mais valorizado é o apadrinhamento em detrimento da
competência do candidato logo o novo professor percebe que foi ingênuo ao
pensar que conseguir uma vaga na área de educação depende exclusivamente da
formação acadêmica. Ele fica boquiaberto ao ver pessoas sem formação
universitária ocupando as vagas que deveriam ser suas por direito. Logicamente
que há casos em que falta profissional com formação na área e, por isso, não há
outra opção a não ser contratar pessoas que ainda estão estudando, mas isso não
se justifica quando o professor formado é trocado por um estudante ainda sem
formação.
A cada
nova escola visitada uma nova decepção. A resposta mais comum é: “As vagas já
foram preenchidas”. O candidato a professor começa a perceber que é preciso
muito mais do que um currículo. Conhecer alguém importante já facilita muito e
se esse alguém for um político melhor ainda. É preciso conseguir uma boa
recomendação senão...
Como
competir com o filho de fulano ou a sobrinha de beltrano? Quem tem mais lobby
ganha fácil. Ser um ilustre desconhecido é a garantia de continuar no
anonimato.
Depender
só da sorte é muito pouco para quem precisa urgentemente conseguir um trabalho.
As oportunidades são poucas e às vezes até essas poucas oportunidades são
tiradas injustamente.
Se
pudessem, muitos profissionais das mais diversas áreas de formação dariam um
grito de revolta. O grito dos excluídos pelo nepotismo, indiferença e pelos
conchavos políticos é: “Só quero trabalhar”!
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