A internet é uma ferramenta poderosa. Apesar de conter muito material censurável, se usada com certos critérios, é uma ótima opção para a disseminação do conhecimento. Li um artigo do psiquiatra David Léo Levisky muito interessante, compartilho com você parte do seu texto. Selecionei alguns parágrafos e os transcrevi na íntegra. Boa leitura.
“Vivemos numa sociedade carente de pai e mãe, geradora de violências. Sociedade que é pouco continente e acolhedora das necessidades afetivas do homem, onde as instituições democráticas estão frágeis, distantes de responderem aos seus papéis de organizadoras das relações sociais, e as leis desvirtuadas por poderes paralelos que agem, muitas vezes, a partir das próprias instituições. Vive-se num estado de desamparo e de falta de perspectivas. Quadro que precisa ser revertido através da participação de toda a comunidade, uma vez que somos todos co-responsáveis.
A violência do século XXI está presente nas ruas, dentro das casas, nas escolas, empresas, instituições, nos meios de comunicação de massa. Entre 30% e 40% das mulheres latino-americanas já sofreram algum tipo de violência, não muito distante do que se passa com as mulheres americanas. O jornal Folha de São Paulo (23/7/98) noticiou que a principal causa de morte entre crianças de 10 a 14 anos (17,3%) decorre de homicídios; a segunda causa (17%) deve-se a acidentes de transito. Ainda que os números atuais sejam algo diferente, a realidade continua a mesma, senão pior.
Quando pensamos nas crianças e jovens em pleno processo de formação de sua identidade, incorporando valores éticos e morais, nos perguntamos: que sociedade estamos oferecendo a eles, quando nós mesmos nos encontramos em dificuldades de nos posicionarmos na educação de nossos filhos e como cidadãos?
Sabemos que nas transformações da adolescência os jovens buscam novos modelos a serem incorporados para a formação de sua identidade adulta. É um período muito vulnerável e suscetível a influências ambientais, construtivas e destrutivas. Muitos jovens liberam sua impulsividade e se envolvem em acidentes: abuso de drogas, no trânsito, nas farras, terminando muitas vezes em suicídio e assassinato, que a mídia por sua vez faz virar manchete e explora como produto de consumo, sem se deter na análise crítica das causas conscientes e inconscientes geradoras de violência.
Há uma violência estrutural da sociedade, que desconsidera a criança, o pobre, o adolescente, o idoso e as minorias, agravadas pelas injustiças sociais. Violência física e moral ocorrem inclusive na família, quando coerção e humilhação fazem parte dos métodos educativos, deturpando a vida afetiva, intelectual e as opções individuais que cada um necessita fazer para encontrar sua realização.
Há uma violência estrutural da sociedade, que desconsidera a criança, o pobre, o adolescente, o idoso e as minorias, agravadas pelas injustiças sociais. Violência física e moral ocorrem inclusive na família, quando coerção e humilhação fazem parte dos métodos educativos, deturpando a vida afetiva, intelectual e as opções individuais que cada um necessita fazer para encontrar sua realização.
O diálogo familiar, social e global torna-se essencial. Vivemos um esmaecimento das noções de limites entre o público e o privativo da ética, dos valores que sustentam uma cultura. A mente humana está se mostrando com recursos insuficientes para suportar o conjunto de pressões internas (liberação dos desejos e fantasias inconscientes) e externas. Estas situações favorecem a produção de estados mentais regressivos, sentimentos de ambivalência, indiferença, impotência e medo.
As pressões externas são representadas por uma parte da mídia que irresponsável e associada a fatores sócio-político-econômico-psicológicos, contribui para o estabelecimento de um clima psicossocial cuja resultante é preocupante. Ao banalizar o corpo, a violência, a sexualidade, a vida gera no sujeito um desinvestimento inconsciente do objeto de amor ao qual se está vinculado, com perda do sentimento de solidariedade, transformando o outro num estranho ameaçador.
Lembremos que Moral e Democracia têm suas origens na qualidade das primeiras relações afetivas entre o bebê e seus pais. É através desses primeiros representantes da sociedade que ocorrerão as primeiras identificações, quando será incorporada na mente infantil em desenvolvimento um conjunto de valores éticos e morais, que, associadas a condições dignas de vida, contribuirão para um melhor integração pessoal e comunitária. Na adolescência, falhas primitivas do desenvolvimento dessas relações emergem e contribuem para o aumento da impulsividade e falta de controle emocional do jovem.
Lembremos que Moral e Democracia têm suas origens na qualidade das primeiras relações afetivas entre o bebê e seus pais. É através desses primeiros representantes da sociedade que ocorrerão as primeiras identificações, quando será incorporada na mente infantil em desenvolvimento um conjunto de valores éticos e morais, que, associadas a condições dignas de vida, contribuirão para um melhor integração pessoal e comunitária. Na adolescência, falhas primitivas do desenvolvimento dessas relações emergem e contribuem para o aumento da impulsividade e falta de controle emocional do jovem.
É preciso ter em mente que somos todos agentes modificadores e vítimas das ações construtivas e destruidoras reinantes em nossa sociedade. Questões de violência na sociedade atual não dependem apenas de segurança pública, isto é, não basta reprimir ou aniquilar, como foi o caso do assassinato de menores na Candelária . É preciso investir mais em afeto, educação, resgate da ética, além de condições dignas de sobrevivência. A educação e a prevenção são processos lentos, porém mais econômicos e eficientes em seus resultados.
Penso que a inter-relação do sujeito com ele mesmo e sua integração social dependem de um processo que depende de uma ética e de uma estética interna e social, que se organiza em torno de pontos de referência relativamente estáveis, construídos ao longo da história do sujeito e das heranças transmitidas pela cultura. A ética e a estética afetiva e social habilitam a pessoa ao convívio com seus semelhantes, de modo construtivo para si e para o seu grupo. Porém, é preciso levar em consideração o que Freud nos alertou sobre a dualidade da mente humana. Isto é, existe um antagonismo de sentimentos entre amor e ódio, vida e morte, construção e destruição. Faz parte da natureza humana ter que se aproximar da desordem para reencontrar forças criativas e criadoras de uma nova ordem”.
Fonte: http://www.abmp.org.br/textos/197.htm
Fonte: http://www.abmp.org.br/textos/197.htm
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