No ano de 1984 minha familia mudou-se para a cidade de Coronel Sapucaia. A viagem foi muito cansativa. Os poucos bens que possuíamos estavam dentro do velho caminhão que o meu pai possuía. Por alguma razão que desconheço o Paraíba (apelido do meu pai) sempre gostou de trabalhar como borracheiro e caminhoneiro.
Depois de nos instalarmos na nova casa, meu pai montou uma borracharia numa região cercada de madeireiras. Muitos caminhões passavam por ali. A cidade era pequena, mas o fluxo de veículos pesados era grande. Não tínhamos (eu e meu irmão) muito tempo livre, pois num período do dia estudávamos e no outro trabalhávamos na borracharia. Quando sobrava um tempinho, íamos jogar bola num campinho que ficava perto de casa. Apesar de ser um menino franzino e muito doente, nunca tive nenhum privilégio por isso. Meu pai filosofava que o homem deve trabalhar desde pequeno para não virar vagabundo. Na maior parte do tempo, eu e meu irmão é que tomava conta do negócio (consertar pneus de veículos). Um trabalho muito pesado para crianças desempenharem. A alimentação precisava ser reforçada, mas...
A vida estava cada vez mais difícil para nós. Sempre faltava comida. A euforia só vinha quando algum conhecido nos convidava para visitar alguma chácara da região. Por que a euforia? Por que haveria a chance de trazer alguma coisa de comer para casa.
Os carros que o meu pai comprava eram velhos, barulhentos e sempre quebravam. Na época, o veiculo da família era um Corcel em péssimo estado de conservação. Recebemos um convite para visitar um amigo do meu pai que morava a alguns quilômetros da cidade. Em hipótese alguma, um convite como esse era rejeitado. Lá fomos nós para a chácara, na volta, o carro veio repleto de: melancia, milho, laranja, banana entre outras coisas. A fartura enfim tinha chegado a minha casa. Um fato raro durante toda a minha infância e juventude. Normalmente, o cardápio consistia de arroz, feijão (quando tinha), bolinho de trigo, de vez em quando um ovo cozido ou frito e pés de galinha fritos.
A falta de comida foi ficando cada vez pior. Certo dia, não havia quase nada para cozinhar para o almoço, qual não foi a nossa surpresa ao receber do nosso pai um saco (mais de 10 quilos) cheio de feijão. Talvez você esteja pensando; até que enfim uma boa noticia! Ao abrir a boca do saco constatamos que o feijão estava cheio de bichos, além de estar exalando um forte odor. A minha mãe protestou muito sobre a qualidade do feijão, mas, ou ela cozinhava, ou não teríamos o que comer naquele dia. Penso que aquele feijão ia ser jogado fora por alguém e o meu pai pediu. Não sei o que ele falou, mas com certeza inventou alguma história. Só restava a minha mãe cozinhar aquele feijão e foi isso mesmo o que ela fez por vários dias. Comemos feijão estragado até que o saco se esvaziasse.
Quando há a necessidade nos sujeitamos a fazer coisas das quais não gostaríamos. A fome é terrível, só quem a sentiu é que pode entender perfeitamente o que estou afirmando. Hoje, fico horrorizado ao relembrar histórias como essa. Infelizmente, essa realidade ainda está presente em milhões de lares espalhados pelo país. A alimentação é indispensável para a sobrevivência da espécie humana, mas existe ainda muito que se fazer nesse sentido. A fome tem ceifado a vida de milhares de pessoas. Felizes são os que ainda têm alguma coisa para servir aos seus filhos.
Depois de nos instalarmos na nova casa, meu pai montou uma borracharia numa região cercada de madeireiras. Muitos caminhões passavam por ali. A cidade era pequena, mas o fluxo de veículos pesados era grande. Não tínhamos (eu e meu irmão) muito tempo livre, pois num período do dia estudávamos e no outro trabalhávamos na borracharia. Quando sobrava um tempinho, íamos jogar bola num campinho que ficava perto de casa. Apesar de ser um menino franzino e muito doente, nunca tive nenhum privilégio por isso. Meu pai filosofava que o homem deve trabalhar desde pequeno para não virar vagabundo. Na maior parte do tempo, eu e meu irmão é que tomava conta do negócio (consertar pneus de veículos). Um trabalho muito pesado para crianças desempenharem. A alimentação precisava ser reforçada, mas...
A vida estava cada vez mais difícil para nós. Sempre faltava comida. A euforia só vinha quando algum conhecido nos convidava para visitar alguma chácara da região. Por que a euforia? Por que haveria a chance de trazer alguma coisa de comer para casa.
Os carros que o meu pai comprava eram velhos, barulhentos e sempre quebravam. Na época, o veiculo da família era um Corcel em péssimo estado de conservação. Recebemos um convite para visitar um amigo do meu pai que morava a alguns quilômetros da cidade. Em hipótese alguma, um convite como esse era rejeitado. Lá fomos nós para a chácara, na volta, o carro veio repleto de: melancia, milho, laranja, banana entre outras coisas. A fartura enfim tinha chegado a minha casa. Um fato raro durante toda a minha infância e juventude. Normalmente, o cardápio consistia de arroz, feijão (quando tinha), bolinho de trigo, de vez em quando um ovo cozido ou frito e pés de galinha fritos.
A falta de comida foi ficando cada vez pior. Certo dia, não havia quase nada para cozinhar para o almoço, qual não foi a nossa surpresa ao receber do nosso pai um saco (mais de 10 quilos) cheio de feijão. Talvez você esteja pensando; até que enfim uma boa noticia! Ao abrir a boca do saco constatamos que o feijão estava cheio de bichos, além de estar exalando um forte odor. A minha mãe protestou muito sobre a qualidade do feijão, mas, ou ela cozinhava, ou não teríamos o que comer naquele dia. Penso que aquele feijão ia ser jogado fora por alguém e o meu pai pediu. Não sei o que ele falou, mas com certeza inventou alguma história. Só restava a minha mãe cozinhar aquele feijão e foi isso mesmo o que ela fez por vários dias. Comemos feijão estragado até que o saco se esvaziasse.
Quando há a necessidade nos sujeitamos a fazer coisas das quais não gostaríamos. A fome é terrível, só quem a sentiu é que pode entender perfeitamente o que estou afirmando. Hoje, fico horrorizado ao relembrar histórias como essa. Infelizmente, essa realidade ainda está presente em milhões de lares espalhados pelo país. A alimentação é indispensável para a sobrevivência da espécie humana, mas existe ainda muito que se fazer nesse sentido. A fome tem ceifado a vida de milhares de pessoas. Felizes são os que ainda têm alguma coisa para servir aos seus filhos.
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