terça-feira, 21 de maio de 2013

A ciência da incompetência

Vamos chamá-lo simplesmente de Incompetente. O tal elemento começa a trabalhar e logo descobre como as coisas funcionam na nova empresa. Esperto, passa a notar que para alçar vôos maiores e saciar a sua sede de poder será preciso parecer competente diante daqueles que detém a autoridade para promover alguém a um cargo de chefia. Para atingir os seus objetivos ele logo começa a fazer amizade com os poderosos, pois bons contatos são tudo hoje em dia- pensa.

Em pouco tempo o sujeito consegue se relacionar bem com um grupo seleto de pessoas. Preguiçoso por natureza espera sempre que os outros façam o seu trabalho. Quando alguém da diretoria está por perto é o mais dedicado dos funcionários. Nunca perde a chance de falar mal do colega que julga ser muito mais competente do que ele próprio. Aparentemente é alguém em que se pode confiar, mas quando a outra pessoa não está por perto destila todo o seu veneno. Quando é repreendido por não fazer o trabalho com esmero sempre tenta por a culpa em alguém.

Como é movido por uma ambição desmedida começa a desviar dinheiro do caixa em beneficio próprio e furtar alguns objetos pertencentes à empresa. A palavra ética é totalmente desconhecida para o Incompetente. Ele conhece profundamente um único verbo e, além disso, só sabe conjugá-lo na primeira pessoa do singular. O verbo é: ganhar.

Desconfiado, pensa que os outros estão sempre querendo enganá-lo, por isso, não confia em ninguém. Olha com desconfiança a todos que tentam se aproximar e só finge ser amigo se o outro puder oferecer algo que vai além da simples amizade.

Anda pelos corredores da empresa como se fosse um dos sócios dando ordens como se tivesse alguma autoridade para fazer tal coisa. O seu olhar transmite falsidade e hipocrisia. Sem nenhum pudor fica se insinuando para as mulheres fazendo comentários totalmente maliciosos. Não respeita hierarquia e tem sérias dificuldades em trabalhar em equipe.

Tem como hábito chegar atrasado ao trabalho e inventa as mais mirabolantes desculpas para se justificar. Quando percebe que um colega chegou atrasado por alguns minutos logo vai relatar para o chefe. Adora inventar apelidos para os outros e ama fazer piadas com o tipo físico das pessoas, mas ele mesmo detesta receber apelidos.

O Incompetente fica sabendo que haverá uma promoção para um cargo de chefia, imediatamente começa a fazer lobby junto aos seus “chegados”. No fundo ele sabe que por merecimento não há a mínima chance de conseguir a vaga, pois é um péssimo funcionário, mas...

O dia de revelar o nome que ocupará a vaga finalmente chega e, na sua ingenuidade o Competente pensa que ele é a único com condições de ser promovido, pois ele é o oposto do Incompetente.

Toda organização, quer seja de caráter público ou privado está em busca de pessoas eficientes e eficazes como é o Competente. A lógica é que ele ocupe o cargo e é exatamente isso que espera como recompensa por tantos anos de dedicação.

O diretor da empresa reúne toda a equipe para anunciar o novo chefe. Os olhos estão atentos a cada palavra. Todos esperam pelo óbvio, só não esperavam que ficassem tão surpreendidos com o que ouviriam. Por incrível que pareça o novo chefe é... O Incompetente, isso mesmo!

Como isso aconteceu? A competência nem sempre é valorizada como deveria. Às vezes não basta ser competente, mas sim ter o “perfil” adequado. A pessoa muito competente sempre é temida como um provável rival e isso a prejudica em muitos aspectos.

Quando o incompetente assume o poder ele logo procura cercar-se de subalternos competentes para que o trabalho seja feito com qualidade. Logicamente que os créditos pelo sucesso vão todos para ele. Muitas vezes o competente é pacato e ético, por isso não faz uso de meios ilícitos para alcançar os seus objetivos. Ele ainda mantém a ilusória crença de que no final terá o seu trabalho reconhecido.

Diante de uma nova promoção o incompetente preocupa-se em escolher o seu sucessor. Para não correr riscos desnecessários procura por alguém com o perfil que não vá contra os seus planos de autopromoção. A qualificação profissional nem é a exigência principal. É a perpetuação da incompetência em certas organizações e, isso, trás inevitavelmente consequências nefastas.