domingo, 17 de março de 2013

Fim dos tempos


Na TV o apresentador informa que no Brasil o número de aparelhos celulares é o dobro do número de habitantes. Sem demonstrar muito interesse no assunto a jovem Manu troca de canal para ver se a sua novela preferida já começou, mas ainda está passando o Jornal Nacional. Enquanto aguarda ansiosa mais um capítulo da telenovela Amor digital um repórter anuncia a próxima reportagem que será exibida logo após os comerciais. Apesar de não gostar de assistir o mais famoso telejornal em exibição no país a chamada da matéria chama a sua atenção. A reportagem dizia que o número de pessoas com acesso a internet no mundo atingira o impressionante número de oito bilhões e isso representava quase 80% da população mundial. A moça ficou impressionada com a informação. Ela já tinha percebido que há algum tempo o aparelho celular e a internet eram quase onipresentes na vida dos jovens. Por diversas vezes tinha ido para a secretaria da escola onde estudava, inclusive tinha sido suspensa mais de uma vez por usar o aparelho celular na sala de aula.
Manu não tinha nenhuma vergonha de falar que dormia abraçada com o aparelho. A sua vida era ficar trancada no quarto enviando mensagens para os amigos, quando alguém falava com ela nem prestava atenção, pois os seus olhos sempre estavam voltados para a telinha do celular. Vivia como se estivesse no mundo da lua, sempre com o olhar perdido, quase alienada da realidade. Dizia para todos que se tivesse que ficar sem o aparelho celular morreria de tristeza.
Naquela noite dormiu por volta da meia noite. Antes de pegar no sono abraçou o seu vicio como se ele fosse um ursinho de pelúcia. Na sua mente pensava que a melhor coisa que o homem tinha inventado estava bem ali em suas mãos. Como o mundo pôde viver tanto tempo sem as maravilhas da tecnologia?-se perguntava a todo instante.
Na manhã seguinte acordou por volta das nove horas e antes mesmo de ir ao banheiro já pensou em ligar para a sua amiga para combinarem de irem juntas ao cinema assistirem ao grande sucesso do momento, a comédia romântica: Só mais uma ligação. Ficou surpresa ao olhar para a tela do aparelho e ver que ela estava totalmente apagada. Tinha certeza de que havia ainda muito bateria para acabar a carga numa noite apenas. Pulou da cama apavorada. E agora, o que fazer?
Na sala os pais assistiam com grande interesse ao plantão Globo de jornalismo. Todos os canais de televisão noticiavam a mesma coisa. Algo terrível tinha acontecido no mundo e não havia nenhuma explicação lógica até o momento.
-Será esse um sinal dos fins dos tempos?- perguntou dona Maria ao marido.
-Nunca ouvi falar que tal coisa é um sinal do fim do mundo- respondeu Nestor sem demonstrar muito interesse.
-Acho que o mundo vai acabar pra muita gente.
-Não exagere querida. Para nós não vai mudar muita coisa com essa notícia.
-Eu sei, mas eu estou preocupada com a reação da nossa filha ao saber o que está acontecendo.
-Acho melhor não contarmos nada para ela, pelo menos por enquanto.
-Concordo. Vamos desligar a televisão e fazer de conta que não sabemos de nada.
A TV é desligada e os pais de Manu tentam disfarçar a expressão de surpresa ao verem a filha se aproximar demonstrando certa inquietação.
-Bom dia- disse Manu.
-Bom dia filha.
-Tem alguma coisa estranha acontecendo, pois não consigo fazer uma ligação no meu celular.
-Pode ser algum problema com a operadora.
-Talvez. Vou ligar o computador e enviar uma mensagem pelo Facebook para a Jose.
-Tudo bem querida, mas antes, por favor, lave o rosto, escove os dentes e penteie o cabelo. Você está horrível!
-Preciso falar com ela urgente.
-Antes faça o que te pedi.
-Mas mãe... Eu...
-Nada de desculpas.
Tá bom.
Manu senta-se em frente ao computador e aguarda ansiosa para poder enviar a mensagem para a amiga, mas não consegue acessar a internet.
-Pai! O senhor pagou a conta da internet?-pronunciou essas palavras com certo tom de acusação.
-É claro que paguei.
-Por que é que não consigo entrar na internet?
-Não tenho a mínima ideia.
Era notória a expressão de irritação da jovem. O celular não estava funcionando e para piorar ainda mais as coisas nem a internet.
-Vou ligar para a Fabiana para ver se ela sabe o que está acontecendo- disse num tom de voz que já demonstrava certo desespero.
Pegou o telefone fixo e... Estava mudo.
-Isso só pode ser algum tipo de brincadeira! -vociferou. 
-Calma filha. Não é o fim do mundo também.
-É claro que é fim dos tempos!
-Logo eles resolvem o problema e tudo voltará ao normal.
-Assim espero. Vou ir à casa da Paula para ver se ela sabe de alguma coisa.
-Coma alguma coisa antes.
-Estou sem fome e, além disso, como comer diante de uma catástrofe como essa?
-Que exagero- disse a mãe ironicamente.
-Não vejo graça nenhuma mãe.
-Credo! Não posso nem brincar mais?
-Vou sair para não brigar com a senhora.
Ela sai de casa e a cena que vê na rua a deixa literalmente de boca aberta.
-Meu Deus! O que é que está acontecendo?- pensou em voz alta.


Continua na próxima semana  

sábado, 9 de março de 2013

Maníaco sem cruz


Uma onda de terror toma conta dos moradores da região de fronteira, pois o temido maníaco da cruz está foragido da unidade da UNEI de Ponta Porã. Pior do que ele estar livre é os boatos que logo começaram a surgir: uma moça foi atacada por ele no Paraguai; alguém o viu andando tranquilamente pela periferia da cidade; um homem desconhecido foi atacado; numa rede social o tal maníaco ameaçou matar pessoas na cidade de Dourados, dentre outros.
Todos os dias a mídia aborda o assunto dando amplo destaque. A população está insegura e os órgãos policiais estão numa verdadeira caçada para encontrá-lo e por fim ao pânico que toma conta da população.
Há um lado da questão que ainda não foi abordado pelos meios de comunicação. O titulo dado a ele pela mídia não está correto. Obviamente que associaram a forma com que ele deixou os corpos das suas indefesas vítimas para nomeá-lo como Maníaco da Cruz, mas associar a sua figura doentia a cruz não foi uma ideia muito feliz por algumas razões.
A cruz nos lembra de sacrifício em beneficio da humanidade;
A cruz nos lembra de um amor que excede a todo o entendimento;
A cruz nos lembra de misericórdia e perdão;
A cruz nos lembra da melhor pessoa que o mundo já conheceu;
A cruz nos lembra de que existe um Deus que se preocupa com os seus filhos;
A cruz nos lembra de bondade e compaixão;
A cruz nos lembra de alguém que doou a sua vida em prol dos outros;        
Associar a cruz a tal indivíduo deturpa o real significado do que ela simboliza. A cruz nunca significou morte e muito menos crueldade. Na cruz vemos o exemplo máximo do que o amor verdadeiro foi capaz de fazer.
A cruz será eternamente lembrada por causa do sacrifício de Jesus Cristo. Chamar um assassino de maníaco da cruz é elogiá-lo como se o que ele fez tivesse alguma coisa a ver com a mensagem de amor revelada pelo Evangelho.
Nenhum ser humano tem o direito de escolher quer deve viver e quem deve morrer. Quando alguém persegue e mata sem dó nem misericórdia está fazendo a obra dele mesmo e não a de Deus. Todo aquele que é guiado por Deus não destrói vidas por algum capricho pessoal ou mesmo por causa da demência. Uma pessoa perturbada não está a serviço de Deus, na verdade está a serviço da sua própria mente doentia.
A partir de agora o tal maníaco deveria ser chamado simplesmente de maníaco. Ele não é digno de ser conhecido pela associação com a cruz.
O dicionário Aurélio define a palavra maníaco como: “aquele que sofre de mania”. E o que significaria a palavra mania? O seu significado é o seguinte: “síndrome mental caracterizada por excitação psíquica, insônia, muita atividade. Excentricidade. Gosto exagerado por algo. Obsessão”. Já a palavra cruz tem um significado bem diferente: “Símbolo da redenção de Cristo e do Cristianismo”. Maníaco e cruz são palavras antagônicas.
O tal maníaco sem cruz logo será esquecido e as pessoas lembrarão-se dele apenas como alguém doente mentalmente, já a figura de Jesus Cristo continuará a ser lembrada eternamente como o símbolo maior do que é o amor divino.