segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Utopia de um sonho

Alguns sonhos são tão reais que é difícil distinguir a fantasia da realidade. Certas pessoas ficam tão impressionadas com um sonho que procuram encontrar alguma interpretação lógica para ele. Os mais curiosos podem comprar nas bancas de jornal revistas que supostamente explica detalhadamente o significado de todo tipo de sonho, por absurdo que ele possa parecer.

O senhor J- é assim quer ser conhecido- está disposto a partilhar com o leitor da sua história pessoal e o impacto que um simples sonho teve na sua finita existência. Talvez pense que alguém possa ajudá-lo. Será preciso ouvir atentamente o que ele tem para contar até o final para se inteirar do seu drama. O leitor pode ficar tranquilo, os fatos serão narrados com objetividade, pois ele não gosta muito de rodeios, sempre vai direto ao ponto. A sua história nunca foi contada, por isso, sinta-se um privilegiado por ser o primeiro a ouvi-la. Vamos deixar de rodeios e deixar que o próprio senhor J conte o seu sonho. É preciso esclarecer que nenhuma explicação será dada, cabe ao leitor tirar as suas próprias conclusões.

“Eu tive um sonho. Sonhei que estava morando em outro país com a minha família. Como posso ter certeza de que não era o Brasil? Logo você vai saber. O lugar era muito diferente de tudo o que conheci nos meus 59 anos de vida.

Acordei pela manhã com o desejo de respirar um pouco de ar fresco. Nos primeiros momentos daquele novo dia notei em mim uma alegria inexplicável. Notei que o meu quarto era lindamente decorado, os móveis eram sofisticados. Ao abrir a porta da sala fui surpreendido por uma cena singular. Olhei em volta e fiquei espantado ao ver que nenhuma casa da rua tinha muro ou cerca. Era como se a quadra inteira pertencesse a um mesmo terreno. Fiquei boquiaberto quando um homem corpulento se aproximou e gentilmente me convidou para tomar café da manhã com ele. Não pude resistir tamanha gentileza. Confesso que foi o desjejum mais prazeroso que tive na vida. Apesar de nunca ter visto aquele homem antes, conversamos demoradamente como se fossemos amigos íntimos.

Entrei em casa ainda atordoado, sem saber direito o que estava acontecendo. Sentei no sofá e pensei que tudo aquilo poderia ser apenas um sonho e nada mais. Repentinamente alguém entra na sala e me abraça. Apesar do susto inicial, fiquei feliz e retribui o gesto de carinho. O homem então me diz que toda a vizinhança iria se reunir no final da tarde para comemorar o meu aniversário. Eu não precisaria comprar nada, apenas desfrutar da festa organizada em minha homenagem.

Fui trabalhar ainda mais confuso. No percurso até o trabalho fiquei estarrecido com o que vi. A cidade era belíssima e extremamente limpa. Nunca tinha visto tamanho respeito entre motoristas, pedestres, ciclistas e motociclistas. Apesar da grande movimentação todos pareciam se entender perfeitamente. No centro da cidade não havia andarilhos e nem crianças pedindo dinheiro. Não vi ninguém trabalhando como segurança e nenhuma viatura policial. Parei o carro e perguntei a uma senhora se os policiais estavam em greve. Ao meu ouvir ela começou a rir e disse surpresa que ali não existia a necessidade de ter policiais, pois não havia criminosos e os cidadãos eram honestos.

Cheguei ao local onde trabalho cada vez mais pensativo. Antes de começar o expediente, o chefe pede a atenção de todos. Com uma voz mansa ele pronuncia palavras de ânimo e motivação. Todos dão as mãos e agradecem a Deus por mais um dia de vida e pedem forças para enfrentar os desafios sem desanimar. O clima entre as pessoas era maravilhoso. Trabalhar ali era tudo o que uma pessoa poderia esperar e muito mais. No decorrer do dia não ouvi nenhuma reclamação de nenhum colega. Ao fim da jornada de trabalho estava cansado, mas muito feliz por poder trabalhar num lugar tão agradável.

Voltei para casa radiante. Ao chegar, que recepção mais calorosa! Diferentemente do habitual, a minha esposa me recebeu com beijos e mimos logo na porta da sala. A minha filha que antes nem falava mais comigo veio ao meu encontro e falou as palavras mais lindas que eu ouvira naquele dia: Pai eu te amo. Era bom demais para ser verdade. Dei um beliscão mo meu braço achando que tudo não passava de um sonho louco.

Após tomar um relaxante banho fui a uma festa animadíssima- a minha. Não sabia que tantas pessoas gostavam de mim. Após um dia de tantas alegrias fui dormir com uma única certeza: se tudo não passasse apenas de um sonho eu não queria acordar mais.

Acordei com o barulho de pessoas conversando. Olhei pela janela e vi não só o muro de casa como vi também que o meu vizinho estava levantando ainda mais a altura do seu muro. Fiquei desesperado! Tentei voltar a dormir, pensei que se pegasse no sono novamente poderia voltar ao meu mundo de fantasia, mas... Nunca entendi por que vivi no paraíso por um dia e tive que voltar para a minha vida cheia de frustração. Se alguém tiver alguma explicação para o meu sonho, por favor, me conte”.

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