quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Só quero trabalhar!


Escolher a profissão de professor é um ato de coragem e não é exagero dizer que é também um ato de heroísmo. Inicialmente, os desafios são muito maiores do que os candidatos a educadores imaginam, posteriormente, eles só tendem a aumentar. O vestibular é só o pontapé inicial de uma longa jornada. Para muitos estudantes, conseguir uma das poucas vagas oferecidas pelas instituições de ensino públicas é algo improvável, por isso, o que lhes resta é o ingresso numa faculdade de ensino superior particular. Conseguir se aprovado no vestibular é bem mais fácil do que arcar com os custos mensais do curso. As despesas vão muito além das mensalidades e é comum elas consumirem praticamente quase toda a renda do estudante. Muitos pais se sacrificam para que os filhos possam se dedicar exclusivamente aos estudos. Certos pais gastam o que podem e o que não podem para ver realizado o sonho de ter um filho formado. Quem não tem o privilégio de só se preocupar com os estudos precisa trabalhar duro para conseguir pagar o curso. Ás vezes o aluno não tem míseros centavos para tirar cópias das apostilas exigidas pelos professores.   

Estudar, para muita gente significa enfrentar com perseverança a triste realidade da falta de dinheiro e do esgotamento físico e mental. O que move pessoas a continuar sonhando num futuro melhor apesar do presente pouco promissor? Nada mais nada menos do que a certeza de que quando receber o seu diploma as coisas vão melhorar e então poderão exercer a sua nobre profissão de formar cidadãos de bem.

O dia da formatura é o momento mais esperado. Todo o esforço e sacrifício enfim são coroados. O êxito é compartilhado com euforia com familiares e amigos. Uma noite verdadeiramente inesquecível. Após toda a comemoração é hora de imprimir o currículo e sair confiante em busca de trabalho. O mais novo profissional da educação sai de casa pensando que logo estará dando aula e finalmente as coisas vão mudar, mas...

Vivendo num país onde o que é mais valorizado é o apadrinhamento em detrimento da competência do candidato logo o novo professor percebe que foi ingênuo ao pensar que conseguir uma vaga na área de educação depende exclusivamente da formação acadêmica. Ele fica boquiaberto ao ver pessoas sem formação universitária ocupando as vagas que deveriam ser suas por direito. Logicamente que há casos em que falta profissional com formação na área e, por isso, não há outra opção a não ser contratar pessoas que ainda estão estudando, mas isso não se justifica quando o professor formado é trocado por um estudante ainda sem formação.       

A cada nova escola visitada uma nova decepção. A resposta mais comum é: “As vagas já foram preenchidas”. O candidato a professor começa a perceber que é preciso muito mais do que um currículo. Conhecer alguém importante já facilita muito e se esse alguém for um político melhor ainda. É preciso conseguir uma boa recomendação senão...

Como competir com o filho de fulano ou a sobrinha de beltrano? Quem tem mais lobby ganha fácil. Ser um ilustre desconhecido é a garantia de continuar no anonimato.

Depender só da sorte é muito pouco para quem precisa urgentemente conseguir um trabalho. As oportunidades são poucas e às vezes até essas poucas oportunidades são tiradas injustamente.

Se pudessem, muitos profissionais das mais diversas áreas de formação dariam um grito de revolta. O grito dos excluídos pelo nepotismo, indiferença e pelos conchavos políticos é: “Só quero trabalhar”!    

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