quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O chamado

Estando ainda em lua de mel, recebi um telegrama dos Correios que mudaria a minha vida. O telegrama dizia que eu deveria me apresentar no prédio dos Correios na cidade de Campo Grande/MS, no dia 19 de janeiro de 1999, para tratar da admissão no concurso público para o cargo de carteiro. Confesso que ao receber o telegrama, algumas lágrimas rolaram pela minha face. Tudo o que eu mais queria estava acontecendo. Depois de uma longa espera, finalmente o meu sonho estava se realizando; ser empregado público federal. Só havia um pequeno problema, a vaga que eu teria que assumir era para a cidade de Coronel Sapucaia, uma região distante da minha cidade.
Durante todo o tempo em que esperei o surgimento da vaga no concurso público, sempre que passava em frente ao prédio dos Correios em Ponta Porã, me perguntava: “Quando será que um dia eu vou trabalhar nesse local?” Certo dia, procurei o gerente da agência para perguntar sobre o concurso, demonstrei o meu grande interesse em trabalhar na empresa e me dispus a aceitar me mudar para qualquer cidade. Creio que ele reconheceu a minha sinceridade. Lembro-me que ele me disse:
- Fique tranquilo, uma hora você vai ser chamado.
Aquelas palavras era tudo o que eu precisava ouvir naquele momento.
Para a minha grande felicidade, na mesma semana em que recebi a convocação para comparecer em Campo Grande, uma mulher que trabalhava como carteiro em Ponta Porã foi transferida para a cidade de Dourados. A vaga deixada por ela seria preenchida por mim.
Viajei para Campo Grande num domingo à noite, pois teria que me apresentar na segunda-feira de manhã. Havia um grande receio, o medo de que os exames médicos que iria realizar desse algum resultado negativo, pois há poucos dias eu tinha tido problemas de saúde. Imagine a minha angustia, depois de esperar por tanto tempo a convocação, cheguei a pensar que tudo estaria perdido.
Ao chegar a Campo Grande, procurei o endereço onde deveria me apresentar. Eu não conhecia a cidade, era a primeira vez que desembarquei na capital do Mato Grosso do Sul, ainda bem que o local era próximo ao terminal rodoviário. Quando cheguei ao endereço ainda era cedo, o prédio estava fechado. Esperei dar o horário do expediente. Aquele era o momento mais importante da minha vida.
Passei os próximos dois dias fazendo vários exames médicos. Que alegria ao verificar que os resultados eram positivos, não havia nenhum problema comigo. Ufa! A agonia finalmente acabou.
A minha carteira de trabalho foi assinada e, oficialmente, eu já era funcionário da Empresa de Correios e Telégrafos. Na quarta-feira começaria o treinamento na prática, fui encaminhado para o CDD (Centro de Distribuição Domiciliar). O supervisor da área de distribuição me explicou todo o processo de entrega de correspondências. Fui designado para acompanhar uma colega no seu trabalho diário. Após realizar o trabalho interno, finalmente eu conheceria como é a “vida” do carteiro.
Saímos com uma bolsa carregada de correspondências. Eu deveria observar com toda a atenção como era a entrega nos endereços. Fiquei surpreso, pois a colega andava (a entrega era feita a pé) a uma velocidade que eu não conseguia acompanhar. O seu vigor físico impressionava. A minha sorte era que ela era uma pessoa muito simpática e paciente. Após as atividades de entrega, nós retornamos ao CDD. A minha colega de trabalho não demonstrava nenhum cansaço. Fiquei impressionado com a sua habilidade. Ao final do dia, eu estava exausto.
Na quinta-feira eu saí com ela novamente. No percurso para o local onde ela era responsável pela entrega, nós conversamos sobre vários assuntos, dentre os quais gostaria de destacar um em especial. Ela me disse:
-Tenho dois empregos: pela manhã trabalho nos Correios e, à tarde, dou aula em uma autoescola. Como isso era possível se o volume de correspondência que ela entregava diariamente era enorme? Realmente, aquela moça foi uma grande fonte de inspiração para mim. Eu percebi logo que os clientes gostavam muito da sua simpatia.
Após o trabalho intenso durante a manhã de quinta-feira, fui chamado à sala do supervisor. Achei que tinha feito alguma coisa errada e seria advertido, para minha surpresa, a conversa que tivemos foi inusitada. Ele me disse:
- Você viu como é o trabalho aqui, ainda dá tempo de desistir. Tem certeza de que é isso mesmo que você quer para você?
Confesso que fiquei muito surpreso com tal questionamento, normalmente esperam-se palavras de incentivo e encorajamento. Como poderia desistir se esse era o momento que eu mais esperava. Falei-lhe que jamais desistiria e que estava pronto para enfrentar qualquer desafio; a necessidade exige a capacidade de adaptar-se a qualquer circunstância.
Após concluir o treinamento na quinta-feira, fui dispensado para retornar a Ponta Porã. Na sexta-feira de manhã seria o meu primeiro dia de trabalho. Cheguei à cidade de Ponta Porã na quinta-feira à noite, tinha ficado quatro dias em Campo Grande. A saudade da esposa era enorme, pois nós estávamos em plena lua de mel quando precisei viajar. Aquela noite foi uma das melhores que tive. Conversamos longamente sobre todos os detalhes da viagem.

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