quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Maravilhosa profissão

Há certas profissões que são muito admiradas pela sociedade pela sua importância para o desenvolvimento do país e para a sociedade em geral. Dentre os vários profissionais que prestam um serviço tão importante a nação destaca-se a figura simpática do carteiro. Talvez você não saiba, mas um carteiro em especial teve um importante papel na história do Brasil. Na história postal brasileira temos um carteiro que se notabilizou: Paulo Bregaro, que levou para o príncipe D. Pedro as notícias de Portugal que ensejaram a Independência do Brasil. As palavras proferidas pelo Conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, ao recomendar pressa na entrega das correspondências, ainda hoje sintetizam a mística do trabalho responsável do carteiro: "Arrebente e estafe quantos cavalos necessários, mas entregue a carta com toda a urgência". Por seu feito, Paulo Bregaro é o patrono dos Correios.
Foi somente no ano de 1835 que o Correio da Corte (como era chamado) passou a fazer a entrega de correspondência a domicílio. Até então, só tinham direito a essa concessão, pelo Regulamento de 1829, as casas comerciais e os particulares que pagassem uma contribuição anual (de 10 a 20 mil réis). Em 1852, o telégrafo foi introduzido no Brasil e as pessoas que faziam a entrega de telegramas eram chamadas de mensageiros. Carteiro era a designação privativa dos serviços dos Correios. Hoje, a palavra carteiro é utilizada, indistintamente, para a entrega de cartas e de telegramas.
Em qualquer estação do ano; primavera, verão, outono ou inverno, você vai encontrar um dos milhares de carteiros espalhados pelo país. Faça chuva ou faça sol, eles estão nas ruas realizando o seu trabalho. O carteiro é o responsável pela entrega de objetos postais como cartas, telegramas, malotes e encomendas expressas. É interessante destacar que foi somente na promulgação da Constituição de 1988 que as mulheres passaram a ter acesso ao cargo de carteiro, antes restrito aos homens.
Para que o leitor tenha uma visão mais próxima do cotidiano do trabalho de um carteiro, é relevante relatar com detalhes todo o processo de ordenação e entrega de correspondências.
O trabalho do carteiro começa bem cedo. A maioria das pessoas pensa que ao chegar ao local de trabalho todas as correspondências já estão todas arrumadas, que é só pegar a bolsa e sair para a entrega, mas a realidade não é bem essa. A primeira etapa é contar todas as correspondências, depois se separa toda a carga entre os DP (Distritos Postais), cada DP é de responsabilidade de um carteiro. De acordo com o tamanho da cidade é estipulado o número de carteiros necessários para atender a população. A separação é feita em um móvel chamado escaninho.
Após essa separação, cada carteiro passa com uma caixa vazia pegando as correspondências do seu DP. Após esse processo, cada carteiro começa uma triagem separando as suas correspondências de forma que o processo seguinte seja simplificado. Em seguida é feito o chamado “colecionamento”; que é a ordenação das correspondências (uma a uma) na sequência em que serão entregues. A próxima etapa é lançar as correspondências registradas na lista de registro impressas pelo setor de expedição de objetos. Por fim, é preciso pesar o volume de correspondências, contar o número de objetos registrados e lançar no sistema SGDO. É somente depois de ter cumprido todos esses itens que o carteiro efetivamente sai para a entrega externa. Após deixar a UD (Unidade de Distribuição) ou o CDD(Centro de Distribuição Domiciliar) de carro, moto, bicicleta ou a pé é que a jornada começa pra valer.
Ao voltar da rua, o carteiro precisa dar baixa no sistema SGDO, registrando o seu retorno das atividades externas. O passo seguinte é devolver as correspondências que serão devolvidas ao remetente. Anota-se o motivo da devolução, carimbando, assinando e encaminhando os objetos postais para o endereço do remetente. As correspondências são devolvidas por vários motivos, dentre os quais: Endereço insuficiente, mudou-se, não existe o número indicado, desconhecido, falecido, recusado entre outros. Há ainda que carimbar os ARs (Aviso de Recebimento) das correspondências registradas. Logo após, é preciso entregar a lista de registro (LOEC) com todos os objetos que não puderam ser entregues, bem como todos os ARs para que o supervisor possa fazer a conferência final. Os carteiros motorizados precisam fazer o roteiro do veículo (carro ou moto) diariamente, anotando em formulário específico a quilometragem inicial ao sair para a entrega e a quilometragem final ao retornar. Depois de ter terminado todas essas etapas é que o carteiro está livre das suas obrigações diárias. A jornada diária é longa e cansativa. Essa é a rotina do trabalho de qualquer carteiro.
Cada região do país tem o seu próprio horário de expediente, adaptado a realidade local, por isso, o começo e término da jornada de trabalho não é igual em todos os municípios. O carteiro é considerado empregado público federal. Para trabalhar como carteiro é preciso ser aprovado em concurso público.
A entrega diária de correspondências e encomendas é um grande desafio para o carteiro. Pode-se afirmar com segurança que é uma verdadeira corrida contra o tempo. Há inúmeros perigos diariamente. Exemplificando: Recentemente, um colega carteiro estava efetuando a entrega em determinado bairro da cidade de bicicleta quando foi atacado por um cão muito feroz, o portão da casa estava aberto e o animal ao avistar o carteiro não pensou duas vezes e o atacou. Sem ter tempo para reagir ao ataque o carteiro foi mordido gravemente no tornozelo. Ao questionar a moradora da casa sobre o porquê do portão estar aberto a mulher afirmou que o cachorro não era seu, mas o cão entrou na sua casa tranquilamente. Para piorar a situação, a mulher não soube informar se o cachorro era vacinado. O carteiro teve que ir ao hospital fazer os curativos e ainda tomar algumas injeções, tudo isso por que um morador foi negligente no cuidado do seu animal de estimação. O chamado melhor amigo do homem é inimigo número um do carteiro.
Noutra ocasião, outro carteiro estava efetuando a entrega quando foi atacado na rua por um cachorro da raça pitbull. Sem ter como fugir, a única solução encontrada foi pegar algumas pedras e jogar no cão. O dono do animal não gostou do que o carteiro fez, saindo de casa muito nervoso. Por mais absurdo que possa parecer, o homem agrediu o carteiro fisicamente com tapas, tentou desferir socos e ainda empurrou o carteiro que caiu no chão.
Faço um apelo a você! Por favor, nunca deixe o seu cachorro solto na rua, pois o risco dele morder o carteiro é enorme. Se o carteiro for mordido por seu descuido, você será responsabilizado por isso. Nenhum carteiro tem prazer em jogar pedras ou mesmo chutar nenhum animal, mas em algumas situações na há alternativa a não ser se defender do seu ataque. Deixar o cachorro preso é um sinal de respeito pelo nosso trabalho. Um animal feroz solto nas ruas pode prejudicar a entrega em determinado local. Pense nisso!
No inverno o trabalho é mais difícil, pois o frio é intenso no estado do Mato Grosso do Sul. Andar a pé, de bicicleta e principalmente de moto não é tarefa das mais fáceis. Às vezes parece que os dedos das mãos irão congelar de tanto frio, mas nem isso faz com que desistamos de realizar a entrega de correspondências. No verão o sol nos castiga impiedosamente. Até na chuva continuamos com a nossa missão. A entrega só deixa de ser feita quando a chuva é muito forte e há o risco de danificar as correspondências, quando isso acontece, temos que trabalhar dobrado no outro dia para não atrasar a entrega. As pessoas elogiam o nosso comprometimento com o trabalho. Tenha a certeza de que todos os esforços são feitos para que os objetos postais cheguem até você com segurança e dentro do prazo de vencimento.
O risco de se envolver em acidentes de trânsito é enorme, muitos carteiros já se afastaram das suas atividades por se envolver em acidentes graves. Destaca-se também o fato de que as intempéries climáticas afeta diretamente na saúde do carteiro.
O carteiro efetua a entrega através do endereço do destinatário, por isso, é imprescindível que você tome certos cuidados, tais como: colocar o número correto da sua casa de forma visível, ter caixa de correspondência em local de fácil acesso entre outros.
O carteiro pode ser chamado de mensageiro da esperança, pois interliga as pessoas das mais diversas regiões do país separadas pela distância geográfica. Mesmo na era da internet, existe ainda milhões de pessoas que usam a carta para poder se comunicarem com parentes, amigos e pessoas queridas. A profissão de carteiro proporciona momentos emocionantes e muito divertidos. O carinho e a confiança das pessoas no nosso trabalho é algo realmente marcante.
A carta é um meio de comunicação barato e seguro. Muitas pessoas mais velhas não conhecem: Orkut, MSN e muito menos e-mail.
Certa vez, ao chegar a uma determinada residência, apertei a buzina da moto e esperei o morador sair. Uma senhora idosa saiu correndo da casa em minha direção. Ela estava chorando. No momento fiquei sem saber o que fazer. A senhora, com lágrimas nos olhos, disse-me:
-Carteiro! Não me diga... É uma carta do meu filho desaparecido? Espero por uma carta dele há muito tempo. Faz vários anos que não tenho noticias dele.
Fiquei emocionado com o depoimento daquela mulher. Perguntei-lhe:
- O nome de seu filho é Paulo?
Ela acenou positivamente com a cabeça. Entreguei a carta tão esperada. A mulher agradeceu muito. Eu havia trazido a melhor notícia da sua vida. Algumas lágrimas teimavam em descer pelos meus olhos. Foi um momento maravilhoso. Em que trabalho eu teria a oportunidade de proporcionar tamanha alegria a alguém?
Ao encontrar com o seu amigo carteiro pela manhã dê a ele um cordial bom dia. Quando estiver muito calor ofereça-lhe um copo d’água, gestos como esses são muito bem vindos e tornam o seu dia mais alegre e menos estressante. Um colega certa vez me disse que: “só paramos quando a entrega termina”. Essa frase expressa a mais pura realidade.

Um comentário: