domingo, 1 de agosto de 2010

O segundo emprego

Quando eu era jovem, arrumei emprego numa fábrica de brinquedos. O nome da indústria era Popyplast, ficava localizada ao lado da estação de trem do Brás-SP. Fui designado para trabalhar na seção de montagem dos brinquedos. O ritmo era muito intenso, com horário regulado até para ir ao banheiro. A linha de montagem precisava ser abastecida durante todo o dia. A única parada era para o almoço. Várias pessoas trabalhavam ao longo de uma extensa esteira. Cada um se responsabilizava por montar alguma peça do brinquedo. No final do processo, os brinquedos eram embalados em caixas e levados para o depósito. Eu ficava no começo da esteira colocando as cabines dos caminhões. O supervisor exigia que fosse colocado um ao lado do outro. Toda a equipe precisava trabalhar no meu ritmo.
O vestiário ficava nos fundos da fábrica. Após o término de mais um dia de trabalho, dirigi-me para o banheiro para tomar banho e me trocar. Ao sair do banho, notei que alguns colegas estavam agindo de forma estranha. Eles riam sem motivo aparente. Um deles se aproximou de mim e disse:
- Alci! Estamos numa boa. Quero que você experimente o meu lança perfume (um tipo de droga) é o máximo cara! Estou viajando e...
Agradeci o convite e recusei a oferta. Percebi que o rapaz tinha dificuldade até para terminar a sua frase. Nunca tinha posto nem um cigarro na boca e não seria agora que me envolveria com drogas. Sai do local o mais rápido que pude. Na minha ingenuidade, nunca percebi que o vestiário era ponto de encontro dos funcionários que usavam drogas. Nunca mais entrei ali. Sempre tive repulsa por todo tipo de drogas alucinógenas.
O refeitório ficava nas dependências da empresa. Cada um levava a sua marmita. Um dia estava comendo numa das mesas quando fui rir de uma piada que o meu primo (trabalhávamos juntos) tinha contado. O meu erro foi tentar rir com um pedaço de carne na boca. Engasguei-me. Comecei a babar e a pele do meu rosto mudou de tonalidade. As pessoas que estavam ao redor pensaram que eu estava brincando. A situação foi se agravando. Corri até o bebedouro e enchi a boca d’água. Eu estava sem ar. Uma mulher percebeu que eu não estava brincando e bateu com as mãos nas minhas costas. O pedaço de carne não saiu. Então, ela me segurou pela cintura e apertou a minha barriga com força. O pedaço de carne foi expelido a alguns metros de distância. Ao olhar ao meu redor, percebi que todos os olhares estavam voltados pra mim. Sai do local muito envergonhado. Pensei que iria morrer naquele dia.
No outro dia de manhã, tive que agüentar a gozação. Alguns colegas colocavam as rodas dos carrinhos na boca e cuspiam longe. O objetivo era ver quem conseguia atingir a maior distância. Fui motivo de chacota por vários dias. Apelidaram-me de esfomeado.

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