quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A força de um vício

Comecei a freqüentar os cinemas do centro de São Paulo na minha juventude. O meu lugar favorito era o Cine Marabá. Deixei de alugar muitos filmes e passei a gastar parte do meu salário em ingressos de cinema. Eu saia de casa no sábado pela manhã e só voltava à noite. No domingo era a mesma coisa. Alguns filmes especiais eu assistia na estréia, na sexta-feira. O amor pela sétima arte crescia a cada dia. Passei a comprar a revista Set Cinema e Vídeo. Todos os meses eu lia todas as matérias para saber as últimas novidades do mundo do cinema.
Por incrível que pareça, cheguei a pagar ingresso apenas para poder assistir a trailer de futuros lançamentos. Eu acompanhava tudo o que se relacionava a filmes. Toda sexta-feira, comprava jornais para recortar as matérias sobre os lançamentos do dia. Adquiri uma pasta para arquivar todos os recortes.
Na minha juventude, o cinema foi o meu maior amigo. Eu me desligava totalmente do mundo quando estava assistindo. Nada me dava mais prazer do que viajar nas histórias dramatizadas na tela. Conheci todos os cinemas da capital paulista. Cheguei a assistir a todos os filmes em cartaz em determinado período. Não havia preferência por nenhum gênero, qualquer filme servia.
Na sala de cinema impera o silêncio, não é preciso conversar com ninguém. Como tinha muita dificuldade para fazer novas amizades, o cinema foi o meu refugio da solidão. A minha mãe não se opunha, pois o seu medo era de que eu me envolvesse com a criminalidade. Na sua mente, o cinema era um lugar seguro para o seu filho.
Perambulando pelo centro de São Paulo, parei em frente a uma banca de revistas usadas e perguntei se havia alguma revista Set Cinema e Vídeo antiga. Para a minha alegria, a banca tinha várias revistas. Comprei todas. A partir desse dia, comecei a percorrer várias bancas em busca das revistas que me faltavam para completar a coleção. O meu objetivo era adquirir todas as edições da revista. O valor de cada exemplar custava bem mais do que uma edição atual. Gastei somas consideráveis com futilidades como essa. Deixava de comprar roupas para poder comprar as revistas. Por vários anos agi assim. Se alguém criticava o meu hábito de comprar revistas sobre cinema, eu ficava muito nervoso. A minha família aprendeu a não tentar modificar o meu comportamento.
Quando estamos presos a hábitos tão arraigados, não conseguimos agir com a razão. Muitos deixam de comer para poder sustentar o seu vício. Hoje posso discernir claramente que fui viciado por muitos anos. O meu vício não era o uso de drogas ilegais, mas a minha mente foi afetada. Depois de tantos anos assistindo a qualquer filme sem nenhum critério, posso ver que agi com imprudência. A diversão de alguém não pode se restringir unicamente a ver filmes. Há inúmeras outras coisas que podem proporcionar lazer e diversão. O isolamento nunca é saudável. Conviver com pessoas é muito melhor do que desfrutar do “escurinho do cinema”.

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