terça-feira, 21 de setembro de 2010

Tipo protetor

Estou lendo um livro muito interessante. O escritor Mario Fedeli na sua obra Temperamento, Caráter e Personalidade, nas páginas 248-250 aborda a dominação e dependência nas relações inter-humanas. Dentre os tipos da categoria de dominação mencionados por ele gostaria de destacar o Tipo Protetor. Mario Fedeli argumenta que: "Nem sempre a dominação assume tons de violência ou de coação física ou moral. No relacionamento dos pais com os filhos, por exemplo, "a atitude de dominação e de posse- escreveu Fromm- em geral é disfarçado por algo que parece zelo natural ou sentimento de proteção da criança. O filho é colocado em uma gaiola de ouro; pode pedir tudo, desde que não saia da gaiola".
A mesma modalidade, docemente opressiva, pode ser encontrada também fora da relação pais-filhos.
A tendência a ajudar o próximo e a encarnar a figura do benfeitor( do "bom samaritano") nem sempre é apoiada no verdadeiro amor, no desinteresse, no puro espírito humanitário, na ânsia de corrigir ou reparar as injustiças do mundo. Mesmo prescindindo dos grandes componentes narcisistas que animam a ação de alguns benfeitores, devemos considerar outro aspecto: a tendência a querer impor, junto com a ajuda e a proteção, também a própria maneira de ver as próprias ideias, a própria moral. No fundo, a necessidade de proteger abriga outra necessidade, a de "educar", de "controlar", de modificar a personalidade do protegido, de violar a sua individualidade.
Desliza-se, então, para uma forma particular de autoritarismo, um autoritarismo muito velado, suave e solícito, do tipo "paterno", mas, no fundo, igualmente opressivo e sufocante.
Trata-se de pessoas auto-suficientes, autoritárias, que acham que receberam a missão de ajudar, consideram como um filho o objeto da sua proteção. Essas pessoas chegam ao paroxismo masoquista de sacrificar-se para servir, explorando esse comportamento para exercer vigilância tirânica sobre seus "protegidos". Tal estrutura da personalidade encontra-se sobretudo em mães, sogras, religiosos.
A atitude descrita é'comum a homens e mulheres, e poderíamos chamá-la de "complexo de dona Praxedes", pois evoca o personagem descrito por Manzoni: "Dona Praxedes era uma velha senhora, muito devotada a fazer o bem, ofício que certamente está entre os mais dignos que o homem possa exercer, mas que por excesso de zelo também pode causar danos, como todos os demais. Para fazer o bem, antes de tudo é preciso conhecê-lo, e, como tantas outras coisas, não podemos conhecê-lo a não ser misturado às nossas paixões, por meio dos nossos juízos, com as nossas ideias que nem sempre estão no lugar certo. Assim, acontecia de ela ou propor como bem algo que não era, ou de tomar como instrumentos adequados coisas que só conseguiam fazer prosperar a parte exatamente oposta. Dona Praxedes, sempre desejosa de "consertar cabeças, de colocar os outros no bom caminho", dedicava-se inteiramente "a dar uma mão para a vontade divina; mas cometia um erro fatal: tomar por céu o que era apenas a sua própria cabeça''( Promessi Sposi,cap.25)"

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